Horizonte ainda mais nebuloso no Congresso
• Avaliação ruim de Dilma complica relação do governo com o Congresso
- Para líderes da base, queda da aprovação da presidente ameaça medidas de ajuste fiscal
Eduardo Bresciani / Simone Iglesias – O Globo
BRASÍLIA — A queda na popularidade da presidente Dilma Rousseff, com avaliação negativa do governo, terá reflexo direto nas votações do Congresso. Já com problemas para controlar sua base de apoio, a presidente enfrentará sérias dificuldades para aprovar medidas "impopulares" e , como as mudanças nas leis trabalhistas, e a votação do Orçamento para 2015, desde o ano passado pendente. Essa é avaliação de integrantes da cúpula dos partidos que apoiam Dilma.
— Claro que isso torna difícil para o governo a aprovação de medidas impopulares, como as mudanças no seguro desemprego e no abono salarial — diz um cacique peemedebista.
O líder do PDT, André Figueiredo (CE), afirma que Dilma precisará aumentar a negociação com sua base aliada para sair desse momento difícil.
— Vai ter que negociar muito. Terça mesmo vou fazer pronunciamento contra essas medidas (trabalhistas). Infelizmente a equipe econômica se orienta por um viés do sistema financeiro. E ela tem que abrir diálogo com Congresso — disse Figueiredo.
As medidas do governo na área trabalhista ampliaram o prazo para que os trabalhadores possam acessar o seguro desemprego e reduziram os valores a serem pagos a título de abono salarial. Há ainda mudanças em relações a pensões. Os temas são alvo de Medida Provisória e terão de ser votados pelo Congresso a partir do mês de março. Orçamento pode ser votado nas próximas semanas.
Governo crê em melhora gradual
Segundo pesquisa Datafolha, 44% dos entrevistados consideram o governo da presidente Dilma ruim ou péssimo, enquanto 23% acham ótimo ou bom. Em outubro, durante o período eleitoral, esses índices eram de 24% e 42%, respectivamente. O núcleo político de Dilma atribui a queda de popularidade do governo a problemas circunstanciais e que serão superados com “muito trabalho” ainda este ano.
— O aumento nas tarifas de energia e gasolina foi necessário para um equilíbrio fiscal que assegure a implantação de todos os programas sociais, que são intocáveis. Nós já convivemos com períodos de menor aprovação. E com o nosso trabalho fomos capazes de responder às expectativas do povo. Assim faremos nos próximos quatro anos — disse o ministro Miguel Rossetto, secretário-geral da Presidência da República.
Apesar de ministros palacianos afirmarem que foram pegos de surpresa com o tamanho da queda, a avaliação é de que há uma agenda negativa muito forte no momento — crise hídrica, aumento dos combustíveis, aumento da energia, inflação, petrolão e outros — que se dissipará ao longo dos meses.
A análise mais otimista, no entanto, é restrita a ministros mais próximos à presidente. Integrantes do governo atribuem a queda de popularidade à falta de autocrítica e desprezo do núcleo político à opinião pública.
— Há uma desmobilização do governo para se defender. A presidente pediu a todos nós, na reunião ministerial, que explicássemos as medidas e defendêssemos incansavelmente o governo. Na prática, ninguém faz isso — disse um ministro.
Ao comentar o momento do governo, o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE) ressalta que é preciso focar na investigação da CPI da Petrobras para depois avançar para eventuais consequências:
— Até para não se dar respaldo a um discurso que o governo faz de que a CPI é para tentar derrubar a presidente.
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