• Diagnóstico do governo aponta que população se sentiu traída pelo discurso da campanha
• Assessores também veem falhas na redução da comunicação da presidente com a equipe e a sociedade
Natuza Nery – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O governo ficou chocado com a pesquisa Datafolha divulgada neste domingo (8) e ainda não tem uma estratégia para reagir à queda de 19 pontos na aprovação da presidente Dilma Rousseff revelada pela sondagem.
Por ora, o diagnóstico feito por integrantes do governo é o de que a população se sentiu traída pelo discurso feito pela candidata Dilma durante a campanha e a realidade mostrada no período pós-eleitoral: energia mais cara, racionamento de água em São Paulo e apagão em alguns Estados do país.
Além disso, membros do Executivo fazem uma auto-crítica sobre o processo de anúncio das medidas de ajuste fiscal, que envolveram aumento de tributos, bloqueio provisório de gastos, corte de subsídios para o setor elétrico e mudanças nas regras de benefícios sociais.
A avaliação é que o governo alimentou a expectativa negativa sobre o futuro próximo, sem conseguir explicar que o cenário de aperto se destinava a preservar conquistas da última década.
A parcela da população que considera o governo de Dilma ótimo e bom caiu de 42% para 23% de dezembro para fevereiro. No mesmo período, a fatia que disse achar o governo ruim e péssimo passou de 24% para 44%.
O ministro Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), porém, tem um diagnóstico menos pessimista sobre os efeitos do cenário levantado pela pesquisa do que outros membros do governo ouvidos pela Folha.
"Já convivemos com períodos de baixa aprovação nesses últimos 12 anos e mostramos que, com trabalho, somos capazes de recuperar", disse.
Para Rossetto, a eleição polarizada, seguida de uma agenda "difícil", ajudam a explicar a queda de popularidade do governo.
"As denúncias sobre corrupção ocupam boa parte da agenda política e não há punição ainda, o que cria um descontentamento na população, que espera velocidade das instituições", disse.
"O reajuste das tarifas de energia elétrica e da gasolina geraram um impasse, mas são necessários para a retomada do crescimento econômico com geração de emprego e renda ainda em 2015", acrescentou o ministro.
Comunicação
Outros assessores presidenciais ressaltam o fato de a presidente ter reduzido drasticamente a comunicação com a sociedade, o que teria contribuído para o governo "queimar gordura muito rápido".
Internamente, Dilma também reduziu a comunicação com sua equipe. Desde a eleição, ela só se encontrou com o marqueteiro João Santana uma vez. Auxiliares defendem que Santana seja chamado a ajudar na recuperação da imagem da presidente.
Apesar do cenário pessimista reforçado pela pesquisa, na avaliação interna há uma coisa boa revelada pelo Datafolha: a crise está acontecendo bastante cedo, dando margem e tempo para uma possível recuperação antes do fim do segundo mandato.
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