PMDB acusa Planalto de interferir nas investigações
• Presidente da Câmara, Eduardo Cunha diz que governo quer 'sócio na lama'
• Também listado na investigação, Renan Calheiros, do Senado, acusa o Planalto de tentar engordar a lista
Andréia Sadi, Natuza Nery – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Um dia após ser implicado na investigação da Lava Jato, o comando peemedebista do Congresso partiu para o ataque contra o governo, atribuindo interferência do Planalto na elaboração da lista de 34 parlamentares que serão investigados pelo Supremo a pedido da Procuradoria-Geral da República.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi citado pela procuradoria como sendo do "núcleo político" de quadrilha para desviar recursos da Petrobras; o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi acusado pelo doleiro Alberto Youssef de receber propina por um contrato da estatal.
Ao negar, Cunha disse à Folha neste sábado (7) que "o governo quer sócio na lama. Eu só entrei para poderem colocar Anastasia [no rol]".
O senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) é ligado a Aécio Neves, presidente do PSDB e rival de Dilma em 2014.
Cunha e Anastasia aparecem em um mesmo depoimento da Lava Jato, em que o policial afastado Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, disse ter entregue R$ 1 milhão ao tucano a mando de Youssef. O senador nega.
Para Cunha, a peça da procuradoria é uma "piada" e foi uma "alopragem" de integrantes do governo, que, segundo ele, teriam interferido junto ao procurador-geral, Rodrigo Janot, para incluir ele e a oposição na lista.
"Sabemos exatamente o jogo político que aconteceu. O procurador agiu como aparelho visando a imputação política de indícios como se todos fossem participes da mesma lama. É lamentável ver o procurador, talvez para merecer sua recondução, se prestar a esse papel", postou no Twitter.
Conforme o blog do jornalista Fernando Rodrigues, no UOL, Renan tem avaliação parecida sobre o papel do governo no caso: "O jogo do governo era 'Quanto mais gente tiver [na lista], melhor, desde que tenha o Aécio", afirmou.
Segue Renan: "Ela [Dilma] só soube que o Aécio estava fora na noite de terça, quando o Janot entregou os nomes para o Supremo. Ficou p... da vida. Aí a lógica foi clara: vazar que estavam na lista Renan e Eduardo Cunha. Por quê? Porque querem sempre jogar o problema para o outro lado da rua [...] o Planalto deliberadamente direcionou a cobertura da mídia para dois nomes".
Renan também acusou Janot de estar "em campanha aberta para se releger". O mandato de Janot vai até setembro. Para continuar, ele depende de uma indicação de Dilma e da aprovação na Comissão de Constituição e Justiça.
Procurado para comentar, o Ministério Público informou que seguiu critérios técnicos e jurídicos nos pedidos de inquérito. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, negou que o governo tenha influenciado na lista (leia mais na página ao lado).
No Senado, interlocutores de Renan dizem ter certeza que o governo tentou sair do foco da Lava Jato. Para eles, isso poderá levar Dilma a ter seu impeachment pedido pela CPI da Petrobras. Essa posição radical, porém, ainda não encontra eco no campo de Cunha. Ele mesmo já disse ser contra o impeachment.
Na avaliação dos peemedebistas, a ''manipulação'' da lista teria se dado por meio de Cardozo. Confrontados com o fato de petistas ligados à Dilma, como Antonio Palocci, aparecerem, eles alegam que naturalmente aliados seriam listados para não configurar perseguição pura.
Sobre a acusação de que formou quadrilha, Renan disse à Folha que "tudo é inconsistente e frágil".
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