• Presidente vive um momento de tensão extrema, que combina crise política com instabilidade econômica, perda de apoio no Congresso e queda da popularidade por conta dos aumentos de preços. No próximo domingo, o coro dos descontentes fará manifestações nas principais cidades do país
- Zero Hora
Amigo da presidente Dilma Rousseff desde os tempos da clandestinidade, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, sintetizou o que a companheira vai precisar:
– Coragem, presidenta!
O discurso de Pimentel foi feito no interior de Minas, na sexta¬feira, em um ato destinado a concorrer com as más notícias de Brasília. Dilma vive um momento de tensão extrema, que combina crise política com instabilidade econômica, perda de apoio no Congresso e queda vertiginosa da popularidade. Mesmo sem estar na lista dos investigados pela Operação Lava- Jato, o escândalo da Petrobras a atinge por ter sido presidente do conselho de administração da estatal, ministra de Minas e Energia e chefe da Casa Civil antes de se eleger presidente. Quatro dos seus ex-ministros estão na lista.
Isolada, Dilma enfrenta os ataques diários da oposição, a infidelidade dos aliados do PMDB e o fogo amigo do PT. Seus articuladores políticos batem cabeça e viram alvo de deboche dos líderes partidários. O resultado é uma sequência de derrotas, que começou com a eleição do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB¬RJ). Mordido porque o Planalto tentou eleger Arlindo Chinaglia (PT-SP), Cunha dá demonstrações diárias de poder, atropela o governo e manda recados claros de que o pior ainda está por vir.
O Planalto foi derrotado na montagem da CPI da Petrobras e nas convocações de ministros para depor no Congresso. No Senado, o ex- aliado fiel Renan Calheiros (PMDB-AL) resolveu seguir os passos de Cunha e devolveu um dos pilares do ajuste fiscal, a medida provisória que reduz as desonerações para empresas. Uma nova derrota está sendo anunciada para os próximos dias, quando os parlamentares devem derrubar o veto à correção de 6,5% na tabela do Imposto de Renda.
Dilma está pagando pelo que fez, pelo que deixou de fazer e pelos atos de seu antecessor. Foi ela quem demitiu o presidente Sergio Gabrielli e os diretores da Petrobras envolvidos na cobrança de propina – Renato Duque, Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró –, mas é mais cobrada do que o ex- presidente Lula, que deu poder aos vilões da Operação Lava-Jato.
A queda da popularidade de Dilma é visível nas pesquisas, nas redes sociais e nas conversas de rua. Além da corrupção na Petrobras, o que explica a revolta contra a presidente é a situação da economia e as medidas amargas que ela adotou depois de ter prometido o contrário na campanha eleitoral. Neste pacote pesam, sobretudo, o aumento da tarifa de energia elétrica e dos combustíveis, responsáveis da disparada da inflação.
A área econômica só teve más notícias neste 2015: preços em ascensão, disparada do dólar, aumento da taxa de juro, recessão. Paralisado pela crise política e pelas medidas para equilibrar as contas, o governo reduziu drasticamente os investimentos públicos. O atraso no pagamento das obras do PAC provocou a suspensão de obras de infraestrutura, com a consequente demissão de operários. As previsões dos economistas são de aumento do desemprego nos próximos meses.
É em meio a esse cenário que Dilma enfrentará no próximo domingo uma série de manifestações contra o governo, tendo como principal mote a corrupção. A tese do impeachment, que estará na boca e nos cartazes de parte dos manifestantes, ainda não é levada a sério pelo governo nem pela oposição, mas não está arquivada.
O que Dilma pode fazer para salvar um governo que mal completou dois meses? Com Renan e Cunha na lista de parlamentares que serão investigados pelo STF, ela deverá nomear Henrique Eduardo Alves para o Ministério do Turismo e buscar a recomposição das relações com o PMDB, mas isso é insuficiente. Há que melhorar a articulação política, acalmar a ala do PT que quer boicotar o ajuste fiscal e reatar os laços com a base social. Outro amigo de muitos anos, o deputado federal Afonso Motta (PDT) sugere que ela invista numa pauta federativa, com programas capazes de aliviar o sufoco enfrentado pelas prefeituras e melhorar a vida do cidadão lá na ponta.
O futuro do governo depende, basicamente, de três fatores: os próximos passos da Operação Lava-Jato, a CPI da Petrobras e resultado das medidas adotadas pela equipe econômica.
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