• Renan articula CPI sobre Ministério Público, mas parte do PMDB resiste
- O Globo
BRASÍLIA — Alvo de abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar seu suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disparou ontem ataques ao governo e ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Cunha disse que a inclusão de seu nome na lista de investigados é uma piada, e que o governo tem interesse em ter um aliado “na lama”.
Em rota de colisão com o governo de Dilma Rousseff, Cunha afirmou que o inquérito contra ele foi aberto por motivação política, com o dedo do Executivo. “O procurador-geral da República agiu como aparelho, visando à imputação política de indícios como se todos fossem partícipes da mesma lama. É lamentável ver o procurador, talvez para merecer a sua recondução, se prestar a esse papel. (…) Sabemos exatamente o jogo político que aconteceu e não dá para ficar calado sem denunciar a politização e o aparelhamento da PGR (Procuradoria Geral da República). Eles estão a serviço de quem? Pelo critério do indício, o procurador só será reconduzido se for da vontade do Executivo”, afirmou em nota e também no Twitter.
Para Cunha, Janot só considerou válido o depoimento do ex-policial Jayme Alves, o Careca, que o acusa de envolvimento no esquema, para poder incluir na lista o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). A abertura de inquérito contra Anastasia causou incômodo na oposição e tirou o ímpeto do discurso do PSDB para cobrar o PT e o governo Dilma Rousseff pelo escândalo de corrupção na Petrobras.
A reação de Renan
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também reagiu. Ele articula a criação de uma CPI do Ministério Público, autor do pedido de inclusão de seu nome no rol de investigados na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Entre os focos de investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito estariam os encontros entre o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), dias antes de a lista ser encaminhada ao STF.
O ministro Teori Zavascki autorizou na noite de anteontem investigação no STF contra 49 pessoas citadas nas delações do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Yousseff. Informado com antecedência que estaria na lista de Janot, Renan começou a se movimentar desde a última terça-feira para viabilizar a CPI do Ministério Público, mas a iniciativa encontra resistências no próprio PMDB. Um dos motivos é que procurador-geral também esteve algumas vezes com o vice-presidente da República e presidente do partido, Michel Temer, entre dezembro do ano passado e este ano. Outro peemedebista que se encontrou com Janot foi o então presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (RN) no fim de 2014. Nessa conversa, o procurador-geral tranquilizou o então deputado sobre as investigações. Segundo relato ao GLOBO de um peemedebista que presenciou a conversa, Janot informou a Henrique Alves que os elementos contra ele eram “frágeis”. O ex-presidente da Câmara teve seu caso arquivado.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo negou que o governo tenha influenciado a elaboração da lista com o nome de políticos que serão investigados na operação Lava -Jato. Segundo ele, os Poderes são independentes, e acusações de influência do governo “não se sustentam”:
— Essa tese é absolutamente inverossímil. Só pode se justificar pelo desejo oposicionista ou uma leitura equivocada dos fatos. Jamais o governo interveio, influenciou ou fez gestões para delações premiadas. Em nenhum momento fez qualquer ação para orientar, influenciar, colocar ou retirar nomes da investigação.
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