domingo, 8 de março de 2015

Sérgio Abranches "O Legislativo pode ser paralisado"

Entrevista: Sérgio Abranches - Sociólogo e cientista político

- Zero Hora (RS)

Como fica a credibilidade do Congresso, com os presidentes do Senado e da Câmara investigados como possíveis beneficiários do esquema na Petrobras?

O Congresso é uma das instituições de mais baixa credibilidade e apoio na sociedade brasileira, e nunca fez nada de importante para mudar isso. O envolvimento dos presidentes das duas casas piora ainda mais a situação, mas também abre oportunidade para o Congresso se reabilitar, caso se antecipasse às investigações e afastasse os dois dos seus cargos, que é o procedimento correto em qualquer democracia. Mas acho difícil que isso ocorra.

Quais devem ser, a partir de agora, os desdobramentos da crise?

Os parlamentares mais vulneráveis são os que vêm de Estados onde as eleições são muito competitivas. Então, Eduardo Cunha é mais vulnerável à pressão popular do que Renan Calheiros. Há uma certa blindagem dos dois, mas, como existe a possibilidade de afastamento, eles ficam vulneráveis politicamente, e aí vão entrar em um modo de autoproteção, de busca da sobrevivência política. Quanto mais demorar até chegar o momento em que Cunha e Renan terão de ser afastados, mais o governo fica fragilizado no Congresso, porque isso é absolutamente indispensável para garantir essa sobrevivência. Eles têm de manter o governo na corda bamba exatamente para que o governo faça todo o esforço possível, inclusive mobilizando a bancada petista, para protegê-los politicamente.

É uma das mais graves crises enfrentadas pelo Congresso?

Existiram outras crises graves, como a dos anões do orçamento, que também atingiu a cúpula do Legislativo. Mas é uma crise grave porque atinge o Congresso em um momento de baixíssima credibilidade e péssima reputação junto à opinião pública e, além disso, em um momento em que o Legislativo tem funções importantes a desempenhar.

Quais serão as consequências?

O Congresso vai ficar tão envolvido na sua autodefesa e na discussão de sua crise que o processo legislativo pode ser paralisado no momento em que o Brasil precisa de um parlamento mais ágil para enfrentar a crise econômica e social. Essa paralisia certamente vai agravar a crise política associada às crises econômica e social.

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