• A indústria continua apresentando resultados acachapantes. Em fevereiro, o recuo da produção sobre fevereiro do ano anterior foi de 9,1%;No entanto, setor nenhum recebeu tantos favores do primeiro governo Dilma
- O Estado de S. Paulo
A indústria continua apresentando resultados acachapantes. Em fevereiro, o recuo da produção sobre janeiro foi de 0,9%; sobre fevereiro do ano anterior, recuo de 9,1%; e em 12 meses, queda de 4,5%.
São números negativos que se repetem mês após mês. E, no entanto, setor nenhum recebeu tantos favores do primeiro governo Dilma: redução de impostos, como a que foi proporcionada para a indústria de veículos, para a de aparelhos domésticos e para a de materiais de construção; R$ 450 bilhões em transfusões diretas do Tesouro, via BNDES, a juros fortemente subsidiados; desoneração das folhas de pagamentos, que murcharam o Tesouro em R$ 20 bilhões em 2014; e reservas de mercado, como as estendidas aos fornecedores de equipamentos para exploração de petróleo e gás.
Em todos esses anos, o câmbio não ajudou e os juros foram devastadores. Alguns dirigentes do setor vinham martelando que uma substancial desvalorização do real (alta do dólar) seria suficiente para devolver dinamismo à indústria. No entanto, mesmo com um avanço do dólar próximo dos 20%, a indústria não dá sinais de recuperação. Ao contrário, agora se viu que está cada vez mais dependente de fornecimento externo de insumos, matérias-primas, máquinas e capital de giro, itens sobre os quais a desvalorização cambial atua negativamente.
No entanto, não foram esses os fatores que mais derrubaram um setor envelhecido e excessivamente protegido. A indústria brasileira é pouco competitiva não só porque enfrenta uma infraestrutura ruim e cara demais; mas porque está sobrecarregada de impostos; e porque, na falta de negociações comerciais, perdeu preferências no mercado internacional. O setor está nesta situação também e principalmente porque toda a economia está desarrumada.
Nessas condições, o desempenho ruim tende a se perpetuar. Lá em um mês ou outro, pode apresentar alguma melhora. Mas não será coisa que passe firmeza a quem pretenda investir, contratar pessoal e participar das redes internacionais de produção e de distribuição.
A melhor política de recuperação do setor não seriam novas puxadas do câmbio ou a implantação de uma política industrial à base de puxadinhos e de remendos, como os que foram tirados da cartola nos últimos anos, mas um ajuste das contas públicas que devolvesse credibilidade e proporcionasse previsibilidade e sustentação à economia.
Contas públicas em ordem derrubariam imediatamente a inflação e os juros. Se vierem acompanhadas por reformas modernizantes das leis trabalhistas e do regime tributário e se removerem progressivamente os obstáculos para novas licitações dos serviços públicos e de negociações para novos acordos comerciais, grande parte da confiança seria restaurada e não haveria razões sérias para que a indústria continuasse emperrada.
Os atuais dirigentes preferem criticar os custos do ajuste, como os que se seguiram à correção dos desvios provocados pela política de desonerações. Ou, então, preferem acionar seus lobbies para arrancar emplastros compensatórios do governo. Mas se dedicam pouco a apoiar políticas de base que recriem um ambiente favorável para os negócios.
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