quinta-feira, 2 de abril de 2015

Empresas de telefonia demitem 3.700

Bruno Rosa – O Globo

O emprego no setor de telecomunicações no Brasil sofreu um baque neste início de ano. O processo de fusão entre as empresas de telefonia e a contração da economia brasileira já resultaram na demissão de ao menos 3.700 funcionários da Telefônica Vivo, da Nextel e da Oi em todo o país. E o fechamento de vagas pode aumentar. Com a compra da GVT pela Telefônica, fontes do mercado estimam que os cortes devem oscilar entre 4.500 e 5 mil, como reflexo da união das duas operadoras. No grupo América Móvil, que está unificando as atividades de Embratel, Claro e Net, a expectativa é a mesma: redução no quadro de colaboradores nos próximos meses.

Por lado outro, especialistas em defesa do consumidor e do setor de telecomunicações temem que a qualidade no serviço prestado pelas empresas possa ser afetada com o grande volume de demissões, que eles consideram como o maior desde a privatização do setor, em 1998. Almir Munhoz, presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores de Empresas de Telecomunicações (Fenattel) e do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações de São Paulo (Sintetel), diz que está preocupado com a onda de fusões.

- As demissões são causadas por todas as fusões que estão acontecendo, o que é preocupante. Além disso, todos os setores da economia estão demitindo, como montadoras, comércio e bancos. Então, o momento é esse - disse Munhoz. - Estamos atentos às demissões e conversando com as companhias para o volume de cortes ser o menor possível.

Ontem, a Oi demitiu 1.070 funcionários, reduzindo, assim, em cerca de 20% suas despesas com pessoal neste ano. A empresa, que cita, em nota, o ano de 2015 como "desafiador em todo o contexto macroeconômico do país e também no setor de telecomunicações", ainda congelou todas as vagas que estavam em aberto neste ano. A maior parte dos desligamentos ocorreu no Rio. Para compensar, a empresa estendeu benefícios como plano de saúde e seguro de vida por até quatro meses para os demitidos.

Na Oi, luz é desligada às 19h
A companhia carioca disse ainda que estão em curso 250 ações para reduzir seus custos. Na lista, estão a redução dos gastos com viagens aéreas e deslocamentos de táxi, controle rigoroso da jornada de trabalho, renegociação de contratos com fornecedores e o corte de fornecimento de energia elétrica às 19h.

Na Nextel, foram demitidos em fevereiro 1.500 funcionários do setor de Call center . Desse total, mil estavam em São Paulo e 500 no Rio de Janeiro. Munhoz, do sindicato, lembrou que a empresa decidiu terceirizar a central de atendimento e transferir para o Piauí. Em nota, a Nextel disse que "reestruturou sua área de serviço de atendimento ao cliente com o objetivo de otimizar recursos e consolidar um modelo sustentável para suas operações".

Na Telefônica Vivo, já foram 1.200 demissões. Segundo uma fonte, parte foi ocasionada pelo programa de demissões voluntárias (PDV). Mas, agora, com a união com a GVT, mais cortes já são esperados. Em nota, a Telefônica disse que os ajustes foram feitos em São Paulo, Rio e Minas Gerais. Em relação às demissões de 4.500 a 5 mil com a união com a GVT, a empresa disse que "não há qualquer definição".

- As demissões vão atingir a Vivo e a GVT. A GVT tem 4.500 funcionários no Call center e mais 7 mil instaladores (funcionários de rua). Parte disso deve ser terceirizada, assim como ocorre com a Vivo - disse uma fonte do setor que não quis se identificar.

Na América Móvil, funcionários esperam cortes também. Segundo uma fonte, a migração de funcionários da Claro, em Botafogo, para a Embratel, no Centro, já começou. Procuradas, Embratel, Claro e Net afirmaram que não comentam rumores. Com a redução nos quadros, especialistas acreditam em uma queda na qualidade dos serviços. O consultor Virgílio Freire afirma que, ao terceirizar, as empresas passam a ter problemas de qualidade, já que muitas subcontratam outras companhias com profissionais sem a devida qualificação.

O advogado João Luiz Mendonça, especialista em defesa do consumidor, também vê o quadro com preocupação.

- Como as empresas vão melhorar a qualidade do serviço se estão demitindo e cortando todos os custos? A conta não fecha. Por isso, o consumidor deve sempre reclamar se estiver insatisfeito com o serviço prestado - disse ele.

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