• O índice de confiança em Dilma contabiliza apenas 24%. Sua aprovação caiu de 63% para 22%, mesmo entre os eleitores que afirmaram ter votado nela
- Correio Braziliense
Não faz tanto tempo assim, a maioria dos adultos ainda se lembra dos orelhões, os antigos telefones públicos, que já são peças de museu.
Ele funcionava por um sistema de fichas, mais ou menos como essas máquinas que vendem café expresso mediante a colocação de moedinhas. O sujeito tirava o telefone do gancho, colocava a ficha e discava o número. Quando a ligação se completava, ficava esperando ela cair. Só depois que isso acontecia poderia começar a conversa. É daí que vem a expressão que intitula a coluna.
Parece que a ficha finalmente caiu no Palácio do Planalto. Os sinais de que isso aconteceu foram dados pela presidente Dilma Rousseff esta semana, mas o fator decisivo foi a pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem, que estava pronta desde sexta-feira e chegou ao conhecimento da Presidência no fim de semana. Segundo o Ibope, o governo é considerado “ruim/péssimo” para 64% dos entrevistados. A maneira de Dilma governar é desaprovada por 78%, enquanto 74% não confiam na presidente.
Os números confirmam a tendência já apontada pelas pesquisas anteriores do Datafolha e da CNT/MDA. Mostram que a popularidade da presidente parece ter chegado ao piso de aprovação: 12%. Segundo o Ibope, também é esse o percentual de avaliação positiva do governo. No Datafolha, o índice foi de 13%. Na CNT/MDA, atingiu 10,8%. O governo Dilma é desaprovado em todas as áreas, principalmente na economia. Apenas 23% consideram o governo “regular”.
Coube ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, comentar a pesquisa: “O governo tem que ter humildade, trabalho, trabalho e trabalho. Nosso compromisso é para quatro anos e três meses de governo. É apenas o início de um processo. Portanto, a fotografia não é boa, mas o filme vai ser muito bom”. A mensagem é de que o governo não perdeu a perspectiva, mas a verdade é que a situação é muito difícil.
Entre as pesquisas CNI/Ibope de dezembro do ano passado e de março deste ano, houve uma inversão entre os percentuais de avaliação positiva e negativa do governo. O índice “ótimo/bom” caiu 28 pontos, enquanto o percentual “ruim/péssimo” cresceu 37 pontos. Já a avaliação regular caiu nove pontos.
Quem avaliava o governo de forma positiva ou regular, agora o desaprova. Analistas consideram muito difícil uma recuperação em razão de dois fatores: o agravamento da situação da economia e os desdobramentos da Operação Lava-Jato, que investiga o escândalo da Petrobras. São duas variáveis que o governo não controla e que vão perdurar no processo ao longo dos próximos anos, talvez por todo o mandato de Dilma.
Estelionato eleitoral
Uma dessas variáveis foi subestimada por Dilma. Não estava no seu horizonte a contaminação da imagem dela pelo escândalo da Petrobras. A presidente da República, desde a famosa carta na qual tirou o corpo fora da compra superfaturada da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), procurou manter distância regulamentar dos chamados malfeitos da estatal. Mas não conseguiu evitar os danos de imagem.
Havia até uma grande expectativa de que a revelação da famosa lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, levaria a borrasca que atingiu a Petrobras para o Congresso, mas deixaria ao largo o Palácio do Planalto. Não foi o que aconteceu. Dilma não conseguiu encarnar o papel de reserva moral diante dos políticos envolvidos.
O maior problema, porém, é a contradição entre o discurso de campanha eleitoral, no qual mascarou os problemas e prometeu uma vida cor-de-rosa para os eleitores, e a dura realidade. A “desconstrução” dos adversários na campanha eleitoral cobra agora o seu preço. De acordo com o Ibope, 76% entendem que o segundo governo Dilma é pior do que o primeiro.
Aumentos das tarifas de energia e combustíveis, alta da inflação e dos juros, reajuste dos remédios… Muitos dos indicadores negativos da economia têm impacto direto no bolso dos eleitores. Resultado: o índice de confiança em Dilma contabiliza apenas 24%. Sua aprovação caiu de 63% para 22%, mesmo entre os eleitores que afirmaram ter votado nela na eleição presidencial do ano passado.
O estrago é generalizado. O combate à fome e à pobreza e as medidas para evitar o aumento do desemprego são desaprovados por 64% e 79%, respectivamente. Nessas duas áreas, a aprovação é de apenas 33% e 19%. A educação também é fortemente rejeitada (73%). A esmagadora maioria desaprova o combate à inflação (84%), a taxa de juros (89%) e os impostos (90%). Sobre o futuro do governo, 55% têm uma expectativa negativa (“ruim/péssimo”) contra apenas 14% que demonstram otimismo (“ótimo/bom”).
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