• Autoritarismo cresce no país e apoio a Maduro diminui, mesmo entre aliados. Atores e instituições independentes agem no vácuo de Unasul, OEA e Mercosul
A Venezuela está a um fio de se converter formalmente numa ditadura. Afora a promessa de eleições parlamentares no fim do ano, todos os demais indicadores institucionais de uma democracia representativa estão comprometidos por um governo truculento e um regime que tenta se manter a qualquer custo no poder, apesar dos claros sinais de esgotamento.
O aparelhamento do Poder Judiciário e das Forças Armadas, passando por um Legislativo sem voz da oposição, permitiram ao presidente Nicolás Maduro impor seus termos à sociedade e calar violentamente os críticos.
Confrontado por uma crise econômica marcada pela maior inflação do continente (mais de 60%), escassez de produtos de primeira necessidade, desemprego, o governo vê despencar a popularidade do presidente, que perde apoio inclusive de setores beneficiados por políticas assistenciais populistas, instauradas nos tempos de Hugo Chávez. Acuado, Maduro reage com ferocidade. A ação das forças de segurança contra manifestantes, no ano passado, deixando dezenas de mortos, e a prisão de líderes da oposição, como o ex-prefeito de Chacao Leopoldo López e Antonio Ledezman, prefeito de Caracas, são a ponta do iceberg da falta de liberdade no país.
Apesar dos claros sinais de abuso e desrespeito aos direitos humanos, instituições multilaterais da região — Unasul, OEA e Mercosul — se mostraram inoperantes e, em boa medida, coniventes com os excessos de Maduro. Mediante uma retórica vazia, afirmaram acompanhar com preocupação o desenrolar dos eventos no país, conclamaram os líderes ao diálogo — como se este fosse possível a partir da prisão —, e mais não fizeram. O argumento, típico de uma diplomacia evasiva, era de que não se pode interferir em assuntos domésticos. Porém, bastou o governo americano suspender o visto de autoridades venezuelanas acusadas de reprimir manifestantes, para estas mesmas entidades acusarem em alto e bom som os EUA de ingerência indevida.
Agora, os sinais de abuso de Maduro se tornaram tão evidentes que até mesmo aliados do chavismo na América Latina começam a reconsiderar um apoio antes incondicional. Ao mesmo tempo, vozes independentes se manifestam no vácuo das instituições multilaterais para denunciar o autoritarismo.
Um exemplo foi a iniciativa promovida pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa, vencedor Prêmio Nobel de Literatura e presidente da Fundação Internacional para a Liberdade, de realizar no fim de março o Foro de Lima. Com representantes de vários países, inclusive o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Aécio Neves, o fórum apresentou os relatos dramáticos de Mitzy Ledezman e Lílian López, mulheres dos dirigentes da oposição presos, e teve seu ponto alto na cobrança por Vargas Llosa do comprometimento dos países da região na defesa intransigente da democracia na região. Já passou da hora.
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