• Setenta já foram dispensados, e outros mil podem ser desligados. Obra olímpica corre risco de atraso
Danilo Fariello – O Globo
BRASÍLIA - A Queiroz Galvão demitiu ontem cerca de 70 funcionários e colocou em aviso prévio mais de mil trabalhadores do Complexo Esportivo de Deodoro, local que sediará 11 modalidades das Olimpíadas no próximo ano. A obra teve início em 2014 e será convertida em um parque depois dos Jogos, mas há atrasos em pagamentos referentes à construção desde janeiro.
Do total de trabalhadores avisados sobre o risco de demissão ontem, cerca de 500 cumprirão os 30 dias de aviso prévio previstos em lei e outros 500 foram comunicados informalmente, uma vez que estão em período de experiência e podem ser desligados mais rapidamente. Estes foram avisados ontem de que podem ser afastados já na próxima semana se não houver perspectiva de pagamento.
Responsável pela obra, a construtora vem sofrendo com atrasos em pagamentos devidos pela Prefeitura do Rio, que repassa recursos federais para o empreendimento. Segundo fontes do mercado, a Queiroz Galvão teria recebido no começo do ano um único pagamento, de cerca de R$ 60 milhões. Outros R$ 80 milhões já deveriam ter sido pagos à empresa desde o começo do ano por avanços na obra, com orçamento total de R$ 640 milhões.
Risco de atrasos
O ritmo do empreendimento está adequado para sua conclusão antes dos Jogos. No entanto, se os pagamentos não forem colocados em dia até o fim de abril, os funcionários em aviso prévio poderão ser dispensados a partir dos próximos dias, começando por aqueles em experiência.
Os mil trabalhadores informados ontem sobre a situação do consórcio, composto por Queiroz Galvão (99%) e OAS (1%), compõem praticamente toda a mão de obra envolvida diretamente na construção do complexo. As demissões, portanto, colocariam em risco a sua conclusão para a realização das Olimpíadas.
A situação do complexo esportivo não é a única em que a Queiroz Galvão vive situação delicada. Pagamentos com origem no orçamento federal também estão em atraso para a conclusão do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) da Baixada Santista, do qual cerca de 450 trabalhadores foram colocados em aviso prévio ontem e mais 70 demitidos. No consórcio estão Queiroz Galvão (66%) e Trail Infraestrutura (34%).
O empreendimento de mobilidade urbana faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e recebeu o último pagamento ainda em 2014. Procurada, a Queiroz Galvão, envolvida na operação Lava Jato, não quis se manifestar.
A Caixa Econômica Federal (CEF) informou que, nos dois empreendimentos, não possui relação direta com os construtores, apesar de repassar recursos. "O banco esclarece que existem recursos disponíveis para liberação na conta dos empreendimentos." A Caixa afirmou ainda que "para as etapas de obras que tiveram projetos alterados, aguarda a regularização da documentação para que possa analisar e liberar os recursos".
A regularização desses documentos seria, portanto, de responsabilidade da Prefeitura do Rio e do Estado de São Paulo. A Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), que está à frente do VLT, reconheceu que um repasse de R$ 30 milhões da Caixa ainda não foi feito devido a ajustes no projeto. A previsão é de que os pagamentos sejam realizados na primeira quinzena deste mês.
A Prefeitura do Rio inicialmente disse não saber sobre as demissões. Depois, questionada sobre participação de funcionários da Empresa Municipal de Urbanização (RioUrbe) em reunião sobre o tema na segunda-feira, não apresentou nova resposta. O município também não respondeu ao GLOBO sobre os atrasos em pagamentos.
Ministério nega cortes
O Ministério do Esporte informou que "não há nenhum corte de recursos federais para as obras olímpicas" e que "a Caixa aprovou duas medições recentes que somam R$ 25 milhões, cujos pagamentos estão autorizados". De acordo com o ministério, esse novo pagamento para o Complexo de Deodoro "deve ocorrer nos próximos dias".
Segundo o Ministério das Cidades, que acompanha as obras do VLT, nos últimos meses o governo de São Paulo vem "solucionando questões técnicas e contratuais no projeto com a Caixa, o que diminuiu o ritmo da obra". O ministério diz que, até o momento, o governo federal liberou R$ 208 milhões dos R$ 400 milhões prometidos para o VLT. O governo paulista repassou outros R$ 269 milhões, conforme informou a pasta.
Os atrasos em repasses de obras com recursos federais, consequência do aperto fiscal, têm sido percebidos em todo o país, colaborando para a disparada das demissões na construção civil.
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