Encontro sem explicação
• À CPI, Vaccari admite ter ido se reunir com doleiro Youssef, mas alega não saber o motivo
Eduardo Bresciani e André de Souza – O Globo
BRASÍLIA - Interrogado durante sete horas na CPI da Petrobras, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, admitiu ontem ter tido encontros com os delatores da Operação Lava-Jato Pedro Barusco e Alberto Youssef, que o acusam de receber milhões de reais em propinas do esquema de corrupção na estatal, mas negou repetidas vezes que tenha tratado de finanças com os dois. Em relação a Youssef, um doleiro que anteriormente já tinha sido preso no escândalo do Banestado, Vaccari chegou a afirmar que não sabe o motivo pelo qual esteve no escritório dele, em São Paulo.
- Eu conheci Alberto Youssef casualmente, há muitos anos - alegou o tesoureiro: - Não tenho relacionamento com ele. Nunca tratei de finanças do PT ou de finanças em geral com ele.
Youssef declarou em seu depoimento à Justiça que mandou entregar dinheiro para uma cunhada de Vaccari e para o próprio, inclusive na porta do diretório nacional do PT, em São Paulo. Diante das inúmeras perguntas dos parlamentares, o tesoureiro contou que foi ao encontro a chamado do próprio Youssef. Mas que, ao chegar ao local, o doleiro não estava. Ele disse que ficou apenas quatro minutos no prédio.
- Volto a insistir. Eu fui ao escritório do senhor Alberto Youssef sem agenda porque ele havia me convidado para ir lá. Portanto, essa dúvida que o senhor tem eu também tenho - disse Vaccari a um deputado: - O senhor Youssef mandou recado para eu ir ao seu encontro. Compareci lá e ele não estava. Fui embora. Já considero essa pergunta respondida inúmeras vezes.
Em relação a Pedro Barusco - ex-gerente da Petrobras que estimou que o PT recebeu até US$ 200 milhões de propina por intermédio de Vaccari - o tesoureiro deu versão bem parecida. Afirmou que nos encontros com Barusco as conversas tratavam de "política e assuntos diversos":
- Eu conheci Pedro Barusco quando ele já estava aposentado. Quem me apresentou foi o senhor Renato Duque. Foi um jantar. Tive poucos contatos. Ele nunca fez parte da minha intimidade. Nunca tratei com ele assuntos sobre finanças do partido ou sobre finanças. Sempre havia mais pessoas junto e, às vezes, o Renato Duque.
As negativas de Vaccari e suas respostas curtas e repetitivas irritaram a oposição, que defende acareação entre ele e os delatores da Lava-Jato. Barusco já reiterou à CPI suas acusações.
- Essa acareação é necessária e vai ser muito boa - afirmou o sub-relator Bruno Covas (PSDB-SP).
Antes de ser interrogado, Vaccari se complicou ao tentar fazer uma apresentação, com slides, de uma reportagem sobre as doações de recursos para campanhas políticas feitas pelas empresas envolvidas na Lava-Jato, com o objetivo de defender a legalidade das doações recebidas pelo PT. Mostrou que, nas eleições de 2010 e 2014, os três grandes partidos (PMDB, PT e PSDB) receberam montantes equivalentes. Mas se enrolou ao citar o total de doações para o PT feitas em 2014 por empresas não investigadas nos desvios da Petrobras. O gráfico que ele mostrou tinha a inscrição 20%, quando o correto seria 65%.
- Esse gráfico aqui tá errado. Aqui tá errado. Aqui o número é 65% das empresas investigadas, aliás, não investigadas, que doaram ao PT. Das empresas investigadas foram 35%. Depois tenho que corrigir essa distorção aí - afirmou o petista.
Sobre acareação com Barusco e Youssef, ele disse que está à disposição das autoridades. Afirmou que seu cargo pertence ao PT e que não houve ainda pedido formal de sua saída. Questionado se ainda tem apoio do partido, disse, laconicamente: "Até hoje (ontem), sim".
Deputados da oposição o compararam a Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT condenado no processo do mensalão por corrupção passiva.
- É igual ao Delúbio. O senhor só não é debochado como ele. Mas o senhor é cínico, hipócrita - afirmou Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
O líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), afirmou que ele terminará preso e o PT, extinto.
Os petistas defenderam Vaccari.
- A oposição está querendo o terceiro turno - disse Afonso Florence (PT-BA), citando políticos do PSDB que respondem a processos.
O presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), reagiu às informações de Vaccari de que seu partido recebeu o equivalente de recursos do PT nas doações de empreiteiras da Lava-Jato.
- O PT passou boa parte da sua existência querendo provar que era diferente dos outros. Hoje, faz um esforço enorme para se mostrar igual aos outros. Mas nós não somos iguais ao PT. Não recebemos financiamento em troca de superfaturamento de obras - disse Aécio.
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