• Presidente da Câmara vê "falta de inteligência política" no texto
Isabel Braga – O Globo
BRASÍLIA - Para garantir a votação do chamado distritão e do financiamento misto de campanhas, com a inclusão da doação de empresas na Constituição Federal, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), defendeu ontem que a comissão especial - que desde fevereiro trabalha em uma proposta de reforma política - não vote hoje seu relatório final. Ele criticou o texto do relator, o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), chamando de "falta de inteligência política" a redução do mandato dos senadores de oito para cinco anos. Cunha quer votar a reforma na próxima semana e sinalizou que pode trocar o relator no plenário.
Mais do que um bombardeio ao relator, o movimento de Cunha quer minar a articulação feita pelo PT e PSDB para tirar o distritão do relatório. O modelo defendido por Cunha e pelo PMDB e que prevê a eleição dos deputados e vereadores mais votados, foi incluído, a contragosto, por Castro, e a comissão está dividida sobre o tema. Segundo Cunha, a composição da comissão especial não reflete a tendência da Casa. E, para evitar a derrota, ele quer levar a reforma ao plenário sem o relatório votado, o que permitiria indicar novo relator.
- Votar sem evoluir o debate pode inviabilizar a votação. É preferível até que a comissão não vote, que leve para o plenário para permitir a votação. Tenho que ordenar a parte regimental - disse Cunha.
O presidente da Câmara classificou como "confuso" o relatório de Castro, disse que ele entra em questões que atraem divergências, como propor o fim da reeleição e a redução do mandato dos senadores, e também criticou o mandato tampão de seis anos para prefeitos e vereadores, como forma de garantir a coincidência das eleições em 2022.
- Quando os deputados falam que tem que alterar o mandato do senador é quase uma agressão. Sabem que não vai passar por lá, é uma falta de perspicácia política você querer impor o tamanho do mandato do Senado. É falta de inteligência política - disse Cunha.
Castro: "relator errado"
Marcelo Castro reagiu às críticas e disse que se empenhará para aprovar o relatório na comissão:
- Eduardo escolheu o relator errado. Deveria ter escolhido um relator mais submisso à vontade dele e não um relator que tem a independência e a autonomia que eu tenho. Da próxima vez, ele vai pensar duas vezes quando for escolher um relator.
Presidente da comissão especial, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que Cunha recebe diariamente deputados e que suas críticas refletem o pensamento deles. Maia vai procurar hoje Castro para tentar viabilizar um texto com menos temas e mais chances de passar no plenário.
- O alerta do Eduardo não é contra o relator ou a comissão, mas para que se construa um texto que possa obter 308 votos em plenário - disse.
Cunha avisou que a votação em plenário será feita, artigo por artigo, para construção de maiorias sobre os diferentes temas e sinalizou que poderá escolher outro relator em plenário.
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