- O Globo
Apesar do respiro do primeiro trimestre, em que a Petrobras teve resultado positivo, ainda há um longo caminho a fazer para corrigir os erros dos últimos anos. É cedo, portanto, para comemorar. O endividamento líquido subiu R$ 50 bilhões, para R$ 332 bi, e é quase três vezes o seu valor de mercado no balanço. Por isso, o valor da ação oscilou: a notícia do lucro não é tão boa quanto parece.
O lucro de R$ 5 bi no primeiro trimestre reduz um pouco o prejuízo de R$ 31 bilhões dos dois trimestres anteriores. A empresa atingiu pela primeira vez a marca de 2,8 milhões de barris de petróleo e gás produzidos por dia e a geração de caixa foi a maior da história, mas ela precisou de 10 anos para aumentar sua produção em 40%, apesar da fanfarra das propagandas oficiais levar a crer que o crescimento era maior. E, neste período de 10 anos, a empresa se arruinou, saindo de uma alavancagem de 0,5 para 5, ou seja, antes ela precisava de meio ano de geração de caixa para pagar sua dívida. Agora, são cinco anos. A empresa apresentou um número menor, porque fez a conta anualizando a geração de caixa do primeiro trimestre. No gráfico, o cálculo é dos últimos quatro trimestres.
A leitura atenta dos balanços da Petrobras dos últimos 10 anos mostra como foram perigosas e erradas as escolhas da companhia. No primeiro e terceiro trimestres de 2006, quando era conveniente eleitoralmente para o então presidente Lula concorrendo à reeleição, o então presidente da Petrobras exaltava que o Brasil havia atingido a autossuficiência e anunciava a compra de Pasadena, que iria refinar nosso petróleo nos EUA.
Curiosamente, o lucro anunciado na sexta-feira tem como uma das grandes explicações o fato de a companhia ser uma importadora líquida de derivados de petróleo. Como os preços caíram no mercado internacional e não foram reduzidos aqui, ela teve lucro com a importação e venda para os brasileiros dos derivados importados. Foi a única das grandes empresas de petróleo a lucrar porque a cotação caiu. Pasadena era, na verdade, uma caixa velha superfaturada pelos piores motivos.
Por outro lado, o resultado do primeiro trimestre exibiu mais uma vez como a intervenção governamental feriu a estatal. Foi só parar de perder com a importação de combustíveis que a empresa passou a ter resultados maiores. A crônica do buraco no qual a Petrobras entrou tem três explicações: corrupção, má administração de projetos, interferência na companhia, impondo anos de prejuízo para fazer populismo com a gasolina. Nos balanços da era Gabrielli, anuncia-se como bom o aumento do consumo interno de combustíveis e isso é usado para justificar fazer quatro refinarias ao mesmo tempo. Duas estão terminando com enormes prejuízos e duas foram abandonadas.
O nível de endividamento da Petrobras continua sendo um dos seus maiores riscos, e abaixo no gráfico se pode ver a escalada. A sucessão de empréstimos começou no período Gabrielli e foi mantido na gestão da Graça Foster para levar adiante os investimentos já iniciados e enfrentar os prejuízos na importação e crescimento do consumo interno de combustíveis.
Além disso, a desvalorização do real atingiu em cheio a dívida líquida da empresa, que saltou de R$ 66 bilhões, no balanço do primeiro trimestre de 2011, para R$ 332 bi, no primeiro trimestre deste ano.
A farra do endividamento cavou o buraco, ajudada pela decisão de investir a qualquer preço em qualquer projeto que fosse decidido pelo Planalto. É essa conta que está sendo paga agora. E, por injustiça, ela recai sobre os acionistas minoritários e os contribuintes.
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