- O Estado de S. Paulo
O PSDB foi à TV se afirmar como oposição ao PT. Como contraponto ao PT. Como o anti-PT. É a prioridade de seu presidente, Aécio Neves, que imagina um novo embate das duas siglas na sucessão de Dilma Rousseff em 2018, com ele à frente do time tucano. A estratégia tem uma razão de existir e um problema existencial.
A razão para o partido dedicar seu programa de TV à crítica dura ao PT é que, após as eleições do ano passado, o PSDB perdeu a primazia da oposição, seja na opinião pública, seja no Congresso. Nas ruas, movimentos há poucos meses desconhecidos assumiram a frente dos protestos contra Dilma, enquanto líderes tucanos assistiam da janela. Correm atrás do tempo perdido.
Em Brasília, dois caciques do PMDB – Eduardo Cunha, na Câmara, e Renan Calheiros, no Senado – protagonizam todos os pesadelos do governo. O PSDB marca passo enquanto quem dá o tom e obriga Dilma e seus ministros a dançarem conforme sua música é o PMDB. Nas orquestrações de Cunha e Renan, os tucanos tocam triângulo.
Logo, era esperado que o PSDB se sentisse compelido a marcar posição e gastar praticamente todo seu programa de TV para criticar o PT e atacar quem imagina que será seu adversário eleitoral daqui a três anos: Luiz Inácio Lula da Silva. É uma tentativa de ressuscitar a gasta polarização PT-PSDB, uma reprise que o eleitor vem assistindo desde 1994.
O problema de o PSDB se projetar de novo como o anti-PT é que o partido será, no máximo, do tamanho da sombra a que se contrapõe. Isso é bom quando o adversário é grande. Mas há 20 anos que o PT não é tão pequeno quanto hoje. E quanto mais os petistas encolherem, menores os tucanos se arriscam a ficar – ao menos enquanto insistirem em ser apenas o avesso do rival.
Prova disso é que embora a simpatia pelo PT tenha caído a seu patamar mais baixo desde os anos 90, a preferência pelo PSDB não cresceu. Segundo a série de pesquisas do Ibope, ela continua na casa dos 6% do eleitorado – menos da metade da dos rivais (14%). O que disparou e bateu recorde foi o contingente de brasileiros sem preferência ou simpatia por nenhum partido: 66%. Por quê?
Fora dos períodos eleitorais, a narrativa do confronto permanente só interessa aos contendores e à rede de assediadores digitais – de ambos os lados – que se nutre dela. Como as pesquisas mostram e as ruas confirmam, é uma história que cansa o público não diretamente envolvido no conflito – especialmente porque não tem fim nem resulta em benefício direto ao eleitor.
Por esse cansaço com a política tradicional, é difícil imaginar que a estratégia do PSDB de se reafirmar apenas como o anti-PT aumentará o capital do partido ou renovará sua imagem.
Principal rival tucano de Aécio para a eleição presidencial de 2016, o governador paulista, Geraldo Alckmin, tem uma interminável greve de professores atrás de si e a perspectiva de racionamento de água pela frente. Mas, por ter a caneta, Alckmin tem potencial para criar uma narrativa diferente da de Aécio. Uma história de superação que pode incluir até dramas pessoais.
Com muito menos alarde que o senador mineiro, o governador paulista tem sido mais efetivo. Incentivou a fusão do PSB de seu vice com o PPS, para fomentar uma linha-auxiliar ao PSDB nas eleições. E tem incensado a senadora Marta Suplicy para que ela dispute a Prefeitura de São Paulo em 2016. Marta tem rejeição demais para vencer, mas pode impedir que o PT vença.
Evitar a reeleição de Fernando Haddad – uma das raras opções de renovação dentro do PT – teria um impacto negativo muito maior sobre o partido rival do que mil programas de TV do PSDB.
Se nenhuma das narrativas, nem a de Alckmin nem a de Aécio, seduzir o eleitor cético e enfadado, ambos correm o mesmo risco do PT: ver surgir uma terceira força em 2018. Há espaço de sobra para quem souber contar uma história nova e convincente.
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