• Senadores governistas montam farsa de defesa dos trabalhadores e ameaçam ajuste
- Folha de S. Paulo
Quando tudo parecia ir de mal a um pouco menos mal, um grupo de senadores governistas pretendia ontem de noite organizar uma reinauguração da crise aguda que quase levou o governo de Dilma Rousseff desta para a melhor, ao fim.
Trata-se de 11 senadores que prometiam recusar votos para a aprovação mesmo do pacote de arrocho que saiu diminuído pelas emendas da Câmara. Dois deles são do PT.
Por volta de junho, em tese estaria concluída a primeira rodada de providências gerais do governo Dilma 2 a fim de remendar a ruína deixada por Dilma 1, estancando ao menos a sangria descontrolada. Quais medidas?
O aumento de receitas e cortes de gastos aprovado pelo Congresso, mesmo talhado. A divulgação próxima do Orçamento federal de verdade, com cortes horríveis, brutais e feitos na marra, mas o possível por agora. A elevação da taxa de juros, a mudança da atitude (agora mais dura) do Banco Central no que diz respeito à inflação de 2016 e, em parte menor, ao controle do câmbio. A solução dos problemas piores, críticos, quase mortais, da Petrobras.
Esse pacote, nada brilhante, em grande parte improvisado e muito provisório, ao menos estabilizaria este paciente que estava no bico do corvo até o primeiro trimestre, a economia brasileira. Na semana passada, porém, houve um sinal de infecção na UTI, quando a Câmara aprovou o aumento dos gastos da Previdência, com o apoio espírito de porco da oposição irresponsável do PSDB.
Agora, isso. Os autointitulados defensores das classes populares querem tocar fogo na crise que já está tostando muita gente pobre, como de costume. Querem ratificar o voto dos deputados pela mudança das regras da aposentadoria; querem derrubar as mudanças que endurecem a concessão de seguro-desemprego e limitam o pagamento do abono salarial.
Do que dizem, a única coisa que presta é a crítica ao fato de o pacote não prever aumento de impostos para mais ricos. É verdade. É verdade também que seria difícil, neste ano, elevar impostos para os mais ricos.
No entanto, importante mesmo é notar que o PT ocupa faz mais de uma dúzia de anos o poder federal e, no entanto, jamais apresentou um plano de tributação mais justa, que dirá racional. Em vez disso, o governo do Partido dos Trabalhadores preferiu adotar políticas de favorecimento de muito ricos.
Por exemplo, em particular no governo Dilma 1, o governo optou por gastar ainda muito mais do que arrecada, fazendo então mais dívida pública, financiada a taxas de juros exorbitantes, juros pagos justamente aos mais ricos. Parte dessa dívida foi contraída com o objetivo de financiar fusões & aquisições de oligopólios ou de baratear o custo de capital das maiores empresas do país (pelo menos, cerca de meio trilhão de reais de dívida foi feita exatamente para isso).
Onze senadores podem parecer apenas um time, um timinho, em relação às 81 cadeiras do Senado. Não é o caso, claro. Em tese, a antiga e pelo jeito falecida bancada governista do Senado era composta por mais ou menos 53 senadores. Uma debandada de 11 praticamente empata o jogo. Para piorar, o PMDB prometeu abandonar Dilma Rousseff à própria sorte caso o PT não se comprometesse a votar a favor do ajuste.
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