Vera Magalhães – Folha de S. Paulo
A presidente Dilma Rousseff repetiu várias vezes na entrevista à Folha que não vai cair, como se todos os caminhos possíveis para abreviar seu mandato dependessem de ato de vontade.
Nas três hipóteses que podem levar a esse desfecho --impeachment, cassação ou renúncia--, só a última depende exclusivamente dela.
O tom "bravateiro" e "autossuficiente" da presidente, como classificaram dois aliados de proa, não agradou nem mesmo o PT e os partidos da base.
Um petista diz que não é o momento de a presidente querer "resolver tudo sozinha", "no gogó". Um cacique peemedebista notou que não cabe à presidente discutir o próprio impeachment.
A fala não pacificou nem a ala do PT que, na véspera, se queixava do alheamento da presidente diante da escalada vertiginosa da crise.
Enquanto tucanos berravam na convenção de domingo que seu governo podia ser abreviado, Dilma saudava nas redes sociais a vitória do Chile sobre a Argentina.
Além disso, aliados se queixam da falta de perspectivas na entrevista. Dilma bate no peito e diz que fica, mas não fala em conciliação institucional nem no pós-ajuste.
Os mais realistas no governo e no PT sabem que apontar a "oposição golpista" como a origem das ameaças funciona para a plateia, mas não condiz com a realidade.
Ministros do STF, do TSE e do TCU, senadores e deputados de vários partidos da base, advogados e empresários conversam sobre meios de ejetá-la da cadeira, analisando qual é mais viável, mais rápido, menos traumático.
Nenhum desses atores se lançará de pronto ao "fora Dilma". Todos sabem que faltam provas de crime de responsabilidade ou crime eleitoral da petista, apoio popular e união de forças políticas para galvanizar o processo.
Ao circunscrever o tema à oposição Dilma corre o risco de não estancar a sangria.
É o PMDB que pode fazer avançar alguma das frentes abertas para apeá-la do poder. E a negociação no partido não se dá num só guichê, mas em pelo menos três.
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