Ao reagir ao posicionamento do PSDB, em sua convenção no domingo, sobre a possibilidade de seu afastamento da Presidência, Dilma parece ter finalmente descoberto que seu mandato corre risco. Em consequência, adotou uma decisão que pode ser, para ela mesma, uma armadilha fatal: convocou os partidos da base aliada para uma ação conjunta em defesa de sua permanência na chefia do governo. Não é, porém, a faixa presidencial no peito que confere a Dilma o poder de articular forças políticas ao seu redor. É a autoridade política de fato. E isso ela não tem nem mesmo para manter unido em sua defesa seu próprio partido, o PT. Que dizer das demais legendas, a começar pelo PMDB, que integram a desmilinguida "base aliada", cada uma mais preocupada em salvar a própria pele e não afundar junto com o governo mais mal avaliado pelos brasileiros na história recente da República.
Os tucanos, como partido de oposição, fizeram o que deles era esperado, declarando-se prontos a assumir o poder caso se consume o afastamento da presidente da República, por decisão do Legislativo ou do Judiciário. Os mesmos petistas que durante o governo tucano saíam às ruas berrando "fora FHC" agora acusam a oposição de estar armando um "golpe". Mas as condições para que o desfecho da atual crise seja o afastamento da presidente são dadas pelo próprio governo, devido à incompetência e à falta de respeito à lei com que tem governado; e pelas forças políticas que teoricamente o apoiam, por causa da falta de pudor com que transformaram em prática usual e corriqueira a malversação de recursos públicos. Uma prática, aliás, à qual lamentavelmente não se têm revelado estranhos nem mesmo membros da oposição. A banalização da desonestidade e da intrujice – esse é o verdadeiro golpe, cometido contra o povo brasileiro pelo lulopetismo.
Se Dilma confia que o PT mergulhará de cabeça em sua defesa, unido e coeso, vai se decepcionar. Basta que atente para o fato de que na reação à convenção dos tucanos ouviu-se – pelo menos até o dia seguinte – o ruidoso silêncio de seu padrinho, que em circunstâncias normais estaria, desde o primeiro minuto, de borduna em punho, malhando os "inimigos". Além disso, a habitual soberba petista levou o partido a que Dilma é filiada a olhar seus aliados de cima para baixo, com prepotência, desconfiança ou desinteresse. Não é preciso lembrar o que Dilma e a tigrada tentaram fazer com os peemedebistas Eduardo Cunha e Renan Calheiros para constatar que não há de ser por amor ao PT ou a uma chefe de governo que sempre desdenhou da chamada classe política que sairão agora em sua defesa os políticos "aliados", muitos dos quais têm manifestado ruidosamente sua insatisfação com a demora da Casa Civil no atendimento de seus pleitos.
Para piorar a delicada posição em que se encontra aparentemente sem dela se dar conta, Dilma afeta um excesso de confiança absolutamente sem sentido. Em entrevista à Folha de S.Paulo, a fragilizada presidente tentou fazer jus à sua reputação de "durona": "Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso é moleza, isso é luta política". E minimizou, com uma ponta de ironia, tanto o papel do PMDB na criação de dificuldades para o governo – "O PMDB é ótimo" – como a importância das críticas que tem recebido de Lula: "Podem querer, mas não faço crítica ao Lula. Não preciso. Deixa ele falar. O presidente Lula tem direito de falar o que quiser".
Condenada à sina dos desesperados, que em defesa própria lançam mão de qualquer argumento, mais uma vez Dilma apelou, na entrevista, para a imagem de heroína que tem de si mesma pelo fato de ter sido presa e torturada durante a ditadura militar. Desperdiçou mais uma oportunidade de dizer à Nação e garantir aos políticos que tem soluções viáveis para as crises (política, econômica e moral) em que meteu o Brasil. Ao contrário, fez um fútil exercício de vontade: não cai porque não quer cair. E todo mundo que se conforme com isso. Quanto à crise econômica em que seu governo mergulhou o País, Dilma não caiu no ridículo de negar sua existência, mas esbanjou otimismo: "É difícil prever (quando vai começar a recuperação). (...) A mais otimista é que nós já saímos (da crise) no fim do ano". Resta saber se até lá ela não terá saído do Palácio do Planalto.
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