• No governo, porém, relação instável com PMDB e protestos preocupam
Fernanda Krakovics – O Globo
BRASÍLIA - Os discursos dos dirigentes do PSDB na convenção do último domingo dizendo-se prontos para assumir o governo funcionou como catalisador da reação da presidente Dilma Rousseff e do PT. Os petistas decidiram usar o discurso "golpismo" como forma de tentar reaglutinar sua base social. O movimento, capitaneado pela própria presidente, foi seguido no Congresso, onde as bancadas de deputados e senadores do PT divulgaram notas atacando o PSDB e ocuparam as tribunas.
Os líderes da base reuniram-se com o vice Michel Temer e, em tom menos agressivo, também defenderam em nota o mandato de Dilma e do vice. No documento, os parlamentares afirmaram "seu profundo respeito à Constituição e seu "inarredável compromisso" com a vontade popular expressa nas urnas".
- Muitas vezes aparece uma ou outra informação segundo a qual um partido está descontente, então eles decidiram foi exatamente revelar essa unidade. No latim se diz: verba volant scripta manent, quer dizer: as palavras voam, o escrito se mantêm. Foi isso que eles fizeram - justificou Temer.
O governo está preocupado com o tamanho das manifestações contra a presidente marcadas para o dia 16 de agosto, desta vez com articulação forte dos partidos de oposição. O temor é que elas piorem ainda mais o clima político e influenciem os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que julgará ação proposta pelo PSDB apontando abuso do poder econômico na campanha à reeleição de Dilma e do vice Michel Temer, no ano passado.
Hoje, a preocupação com este julgamento do TSE é maior do que com o do TCU sobre as chamadas "pedaladas fiscais", que poderia ensejar um pedido de impeachment da presidente. Petistas contabilizam, no momento, que três dos sete ministros do TSE votariam com a oposição. O temor é que o depoimento à Justiça Eleitoral de Ricardo Pessoa, dono das construtoras UTC e Constran, marcado para o próximo dia 14, vire um voto e garanta maioria para a oposição.
Bancadas petistas: tom duro
Nas notas divulgadas ontem, o tom das bancadas petistas foi duro: "O PSDB parece também desconhecer que o Brasil não é mais uma "República de Bananas", que dá ensejo a golpes com base em pretextos jurídicos canhestros", diz trecho da nota divulgada pelo PT no Senado.
Os senadores do PT recorreram até a Tancredo, avô do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), para atacá-lo. "Aécio Neves, que parece cada vez mais inspirado pelo espírito golpista da UDN de Carlos Lacerda, deveria se inspirar mais na figura democrática e visceralmente antigolpista de seu avô", diz a nota.
Na noite de segunda-feira, Dilma recebeu o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e Michel Temer para uma reunião reservada no Palácio da Alvorada, que durou mais de uma hora. Dilma fez um apelo a Cunha para que evite pautar projetos que prejudiquem as contas do governo e pediu que fosse adiada a votação da proposta que aumenta a correção do FGTS. A presidente argumentou que a aprovação poderia "quebrar" o Minha Casa Minha Vida, cujos empréstimos são subsidiados pelo fundo. Houve certa tensão quando Cunha rebateu Dilma, afirmando que isso não é verdade, já que a mudança ocorrerá apenas sobre os depósitos futuros. (Colaboraram Cristiane Jungblut, Júnia Gama e Washington Luiz)
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