Reação de Dilma à crise faz oposição e PT trocarem acusações de 'golpismo'
• Turbulência. Sem apoio político e acuada por ações no TCU e no TSE, presidente afirma que não vai "cair" e acusa opositores de tentarem abreviar seu mandato; Aécio vê "golpe" em discurso para constranger investigações, e Alckmin diz que "fatos decidirão futuro"
Isadora Peron, Ricardo Brito – O Estado de S. Paulo
A ofensiva da presidente Dilma Rousseff para tentar conter a escalada da atual crise política provocou ontem reações entre governistas e oposição, que trocaram acusações de "golpismo" e colocaram o tema do impeachment e de qualquer outra forma de abreviamento do atual mandato dela no centro da agenda pública do Palácio do Planalto e do Congresso.
Em entrevista publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, Di1ma afirmou: "Eu não vou cair, eu não vou. Isso é moleza, é luta política. As pessoas caem quando estão dispostas a cair. Não estou. Não tem base para eu cair". Ela também desafiou a oposição a derrubá-la: "E venha tentar, venha tentar".
Conforme mostrou o Estado ontem, Dilma prometeu, em conversas reservadas com seus assessores, defender seu mandato "com unhas e dentes". Em nota, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, reagiu. "Na verdade, o discurso golpista é o do PT, que não reconhece os instrumentos de fiscalização e de representação da sociedade em uma democracia."
Para a oposição, Dilma assumiu um discurso de vitimização para barrar as investigações relativas ao governo e à campanha presidencial. Logo no início da tarde, Aécio divulgou nota apontando o que chamou de estratégia para "constranger" e "inibir" a ação das instituições, como o TCU, responsável pela análise das contas de governo, e o Tribunal Superior Eleitoral, que investiga as contas de campanha de Dilma. "Tudo que contraria o PT, e os interesses do PT, é golpe! O discurso golpista do PT tem claramente o objetivo de constranger e inibir instituições legítimas, que cumprem plenamente seu papel", afirmou em nota o senador tucano.
Em São Paulo, mesmo o governador Geraldo Alckmin, considerado um moderado dentro do partido, também criticou Dilma. "Eu acho que ela (Dilma) foi infeliz (nas declarações). Nós (da oposição) cumprimos a Constituição. Os fatos é que decidirão o futuro. Nós temos é o dever de cumprir a Constituição e apurar as coisas. Ninguém deve ter medo de apuração, de investigação", afirmou o governador paulista.
Reação. Na entrevista, a presidente disse que as previsões de que não termina seu mandato partem "do ponto de vista de uma oposição um tanto quanto golpista". A ofensiva de Dilma foi comemorada por setores do PT que achavam a presidente "apática" diante da crise.
A bancada petista no Senado divulgou nota dizendo que "Aécio Neves parece cada vez mais inspirado pelo espírito golpista (...) e deveria se inspirar mais na figura democrática e visceralmente antigolpista de seu avô, Tancredo Neves". Reservadamente, o conteúdo das falas de Dilma, no entanto, não gerou consenso entre os governistas, temerosos de que ela tenha colocado o tema no centro da agenda política. Depois de ter divulgado a nota, Aécio disse que a presidente deveria se preocupar mais com as movimentações dos seus aliados. "Deixo aqui para ela (Dilma) uma sugestão: se ocupe cada vez menos da oposição e se preocupe mais com seus aliados", afirmou o senador.
Integrantes do PMDB procuraram a cúpula tucana para sondar qual seria a receptividade do partido em relação a um eventual governo do vice-presidente da República, Michel Temer. O presidente nacional do DEM, senador Agripino Maia (RN), disse que Dilma tem de provar a sua inocência em relação às acusações e não se fazer de vítima. "A presidente parece achar que a vitimologia será mais forte do que os argumentos jurídicos contidos nas ações que ela terá que enfrentar no TCU e no TSE."
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