• Aécio diz que presidente quer "constranger" investigações no TCU e no TSE
• Em entrevista à Folha, petista falou em "certa oposição golpista" e que não há base real para afastá-la
Flávia Foreque, Mariana Haubert, Marina Dias e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Em resposta ao desafio lançado pela presidente Dilma Rousseff em entrevista à Folha, quando disse que os adversários não terão êxito se tentarem afastá-la do cargo antes do fim do seu mandato, líderes da oposição acusaram a petista de tentar constranger as instituições que investigam as contas do governo e sua campanha à reeleição.
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse que viu na entrevista a presidente "cada vez mais fragilizada", tentando "constranger e inibir instituições legítimas" como o TCU (Tribunal de Contas da União) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O TCU apontou irregularidades nas contas do governo Dilma em 2014. O TSE conduz uma investigação sobre suspeitas de abuso de poder econômico durante a campanha da presidente à reeleição.
"O discurso golpista é o do PT, que não reconhece os instrumentos de fiscalização e de representação da sociedade em uma democracia", afirmou o senador tucano em nota distribuída para rebater as declarações da presidente.
"Os partidos de oposição continuarão atentos e trabalhando para impedir as reiteradas tentativas do PT para constranger e inibir a autonomia e independência das instituições", acrescentou.
Em entrevista à Folha, Dilma chamou os adversários para briga: "Eu não vou cair", disse. "Não tem base para eu cair. E venha tentar". Ela afirmou que alguns de seus opositores tem comportamento "golpista", sem identificá-los.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO) questionou os ataques da petista à oposição. "Ela é imune a tudo? É uma postura imperial, não é uma postura republicana." Para ele, a presidente está "escrevendo o script" de quem está deixando o poder.
O líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), disse que Dilma revelou "prepotência" e "uma desconsideração para com os órgãos de controle do país".
Vista como sua primeira reação significativa depois do agravamento da crise política, a entrevista da presidente recebeu várias manifestações públicas de apoio na base governista, mas não foi unanimidade entre seus aliados.
Reservadamente, senadores do PMDB e do PT avaliaram que Dilma exagerou no tom. Um peemedebista disse que ela "deu uma de Collor" e "chamou a crise para si".
Um petista afirmou que a presidente atrapalhou toda uma articulação montada na última segunda-feira (6) para baixar a temperatura da crise e provocou novas reações da oposição contra ela.
Segundo ele, estava tudo acertado para que líderes governistas assumissem a defesa de Dilma, como ocorreu na divulgação de uma nota conjunta em apoio a ela, assinada por 11 partidos aliados.
Além da articulação para que os ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União) fossem acionados para dar "explicações exaustivas" ao Congresso.
Foi aprovado nesta terça (7) convite para que os dois falem no Congresso sobre as chamadas "pedaladas fiscais", que são consideradas irregulares por técnicos do TCU e podem levar à rejeição das contas de Dilma. Eles já foram nesta terça à Câmara falar com a bancada do PT.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), acusou Aécio Neves de ser o "porta-voz do golpe" e pediu que honrasse a "história de seu avô", o presidente Tancredo Neves (1910-1985).
A nota dos partidos aliados, costurada pelo governo e elaborada durante reunião no gabinete do vice-presidente Michel Temer, diz que eles "manifestam o seu apoio à presidenta e ao vice-presidente" e "reafirmam seu profundo respeito à Constituição".
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