- O Globo
Este é mais um fim de semana em que a Grécia decide seu destino. Neste sábado, haverá reunião dos ministros de Finanças e, depois, a Cúpula da União Europeia. Há muito em jogo sobre a mesa, inclusive o prestígio da mais importante líder europeia em muitos anos. A proposta feita pelo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, foi bem recebida pelo mercado. As bolsas subiram, e o euro se fortaleceu.
Quando tudo parecia perdido, o líder grego fez uma proposta muito parecida com a dos credores. Tsipras se comprometeu com um superávit primário de 1% do PIB este ano, subindo a 2% no ano que vem, até chegar a 3,5% em 2018. Também propôs idade mínima de 67 anos para aposentadorias, a partir de 2019. Antes, só cogitava para depois de 2036. Aceitou o aumento de impostos sobre as ilhas, cortes em gastos militares e até em benefícios sociais. A grande diferença, explica o economista-chefe da Acrefi, Nicola Tingas, foi que Tsipras propôs escalonar as metas ao longo dos anos.
- Ele foi na direção dos credores, mas propôs que as metas não sejam de uma vez. Também conseguiu que a ideia de perdão da dívida ou reestruturação fosse discutida já na concessão de um novo pacote. Antes, os credores só aceitavam isso depois que os gregos apresentassem resultados - disse.
A crise de confiança e o fechamento bancário por duas semanas já feriram a economia grega. Antes, havia expectativa de uma pequena alta de meio ponto percentual no PIB, agora as projeções são de uma recessão de até 3%. Com isso, as receitas do governo também vão cair, e chegar à meta de superávit será muito difícil em 2015. Tsipras está prometendo o que talvez não consiga cumprir:
- A economia está paralisada. Todos os agentes econômicos estão retendo euros. Um comerciante, por exemplo, não faz encomendas, prefere ter o dinheiro em caixa, mesmo que fique sem produtos para vender. Também não há importações, e quase tudo na Grécia é importado. Essas duas semanas de bancos fechados colocaram o país à beira do colapso. O próprio Tsipras está ameaçado com essa paralisia.
O economista e consultor Alexandre Schwartsman acha que os bancos talvez tenham que ser estatizados. Depois de todo esse tempo fechado, o medo se espalhou entre os gregos, e o natural é que eles tentem sacar todos os euros que puderem. Mas isso desmontaria o sistema bancário. Só um forte e convincente apoio político e financeiro europeu poderia evitar esse cenário trágico. Tingas também acha que a corrida é inevitável:
- Com acordo ou sem acordo, os saques vão acontecer em massa quando os bancos reabrirem. O governo, no melhor cenário, terá que torcer para que o dinheiro volte nos próximos meses, à medida em que o pior da crise fique para trás - disse.
Desde 2010, os gregos já receberam dois pacotes de ajuda num total de ¬ 240 bilhões. Agora, pediram à União Europeia e ao FMI mais um, de ¬ 53 bilhões para os próximos três anos. A Grécia não consegue se financiar no mercado. Não há saída sem um Haircut , um perdão parcial da dívida. Já houve um em 2012. O país devia 108% do PIB, em 2008, e hoje deve 170%, em parte porque o PIB encolheu pela recessão provocada pela crise e as medidas de ajuste. A conta não fecha.
A líder alemã Angela Merkel está, segundo o jornal "Financial Times", em um jogo de perde-perde. Se ela ceder, pode enfrentar a reação dos contribuintes alemães que são contra novas concessões aos gregos. Se endurecer, será responsabilizada pelo desmoronamento da economia da Grécia, que ocorrerá num cenário de fracasso das negociações.
O ministro das finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, admitiu que a dívida grega é impagável, a exemplo do que afirmou o FMI esta semana, mas alegou que o perdão infringiria as regras da União Europeia. A saída é a reestruturação - alongamento de prazos e queda dos juros - mas que terá que ser aprovada pelos parlamentos dos países.
Qualquer que seja o resultado das reuniões deste fim de semana, é certo que a Europa precisará passar por reformas institucionais. O que era para ser um elo de união e solidariedade virou uma camisa de força que alimenta ressentimentos de uns países contra outros. A ideia fundadora da União Europeia era resolver as divisões que levaram o continente a tantas tragédias.
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