• Giles Azevedo, assessor especial da presidente, assume funções de Temer e se reúne com deputados da base para cobrar fidelidade
Pedro Venceslau – O Estado de S. Paulo
- BRASÍLIA - Enquanto o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) ensaia deixar o posto de articulador político do Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff (PT) escalou um “ministro sem pasta” para atuar no varejo da relação com o Congresso e montar a blindagem do governo nas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) criadas pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), depois dele romper com o governo.
O assessor especial da Presidência Giles Azevedo reuniu-se na quarta-feira em seu gabinete com deputados do PP, PMDB, PT e PC do B para orientar a estratégia governista na CPI que investiga supostas irregularidades na concessão de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entre 2003 e 2013. Segundo relatos de participantes do encontro, Giles cobrou empenho e chegou a ligar para ministros, líderes e dirigentes partidários.
Nas conversas, pediu que as siglas aliadas substituam os deputados que não se empenharem em frear a ofensiva da oposição para constranger Dilma e o PT. Na semana passada, uma articulação entre peemedebistas e tucanos resultou na criação de quatro sub-relatorias na comissão – todas entregues à oposição.
Os agraciados foram Cristiane Brasil (PTB-RJ), filha do ex-deputado Roberto Jefferson (que denunciou o mensalão), Alexandre Baldy (PSDB-GO), André Fufuca (DEM-MA) e André Moura (PSC-SE), que integra a tropa de choque de Eduardo Cunha na Câmara.
A manobra resultou no enfraquecimento do relator, José Rocha (PR-BA), que é governista, e deixou o Palácio do Planalto em alerta. A CPI quer convocar, entre outros, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu filho, Fábio Luís, os ex-ministros Miguel Jorge (2007-2010) e Fernando Pimentel (2011-2014) e empresários como Marcelo Odebrecht e Eike Batista.
A comissão tem uma reunião de trabalho marcada para manhã e, na quinta-feira, ouvirá o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. A avaliação dos petistas e demais aliados é de que a CPI não tem um objeto claro, por isso tenta criar fatos.
“Enquanto a CPI da Petrobrás corre atrás da Lava Jato, a do BNDES não tem fatos concretos. Por isso tentam fazer essas convocações para terem notoriedade”, diz o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), segundo-vice-presidente da CPI.
Na reunião com deputados da semana passada, Giles disse que é possível virar o jogo na CPI se os deputados governistas souberem aproveitar a ocasião para defender a atuação e os pressupostos do BNDES.
A ideia é comparar a estratégia do banco com o período do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) que, segundo os petistas, teria atuado com foco nas privatizações.
Outro ponto de preocupação é a CPI dos Fundos de Pensão, criada para investigar indícios de manipulação em fundos de pensão complementar. Assim como no caso do BNDES, a comissão também foi criada por Cunha depois do rompimento com o governo Dilma.
Curinga. Em outra frente, Giles também estaria, segundo relatos de deputados, conversando com parlamentares do baixo clero e líderes de pequenas siglas para sedimentar, “pela base”, o projeto de recomposição do bloco aliado.
A movimentação do assessor especial vem sendo feita de forma discreta e à revelia do vice-presidente, Michel Temer.
Chefe de gabinete de Dilma no primeiro mandato, Giles assumiu o cargo de assessor especial em 2015. Avesso aos holofotes, ele participa das reuniões mais importantes do núcleo político do Palácio do Planalto. Nessas ocasiões, mais ouve do que fala. Ele também assumiu, em janeiro, a função de conselheiro da empresa Itaipu Binacional no lugar do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso na Operação Lava Jato.
Giles integrou o comando da campanha pela reeleição de Dilma em 2014. O Estado tentou contato com o assessor especial, mas nã0 obteve resposta até a conclusão desta edição.
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