Por Cristian Klein – Valor Econômico
RIO - A bancada federal do PT está dividida sobre o que fazer em relação a Eduardo Cunha (PMDB-RJ) depois que o presidente da Câmara dos Deputados foi denunciado, na quinta-feira, pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), por lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
Há um grupo que prefere não acossar Cunha - desafeto do governo federal e que pode acolher a qualquer momento um pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff - e outra ala que já colhe assinaturas para afastar o pemedebista da presidência da Câmara, tendo como justificativa a denúncia apresentada no STF.
"A bancada do PT vai ter um debate muito radicalizado", prevê o deputado Carlos Zarattini, de São Paulo, sobre a reunião convocada para discutir o assunto hoje, em Brasília. O parlamentar afirma que o grupo majoritário - medido pelo apoio ao líder da bancada, Sibá Machado (AC) - tem cerca de 55%, e a ala anti-Cunha, liderada pela corrente Mensagem, e representada por deputados como Alessandro Molon (RJ) e Henrique Fontana (RS), conta com 45%.
Zarattini, que se alinha à ala majoritária, afirma que o grupo é da opinião de que Eduardo Cunha foi eleito deputado federal, presidente da Câmara e deve permanecer no cargo "até que seja condenado e haja provas irrefutáveis contra ele". "Até porque defendemos a permanência da Dilma e do Lindbergh [Farias, do Rio] e da Gleisi [Hoffmann, do Paraná]. Tem que preservar. A pessoa precisa ter o direito de se defender", diz o deputado, numa referência a senadores do partido que tiveram seus nomes citados em meio às investigações da Operação Lava-Jato, que apura esquema de corrupção na Petrobras.
De acordo com a denúncia de Janot ao STF, Cunha recebeu pelo menos US$ 5 milhões em propina do delator Julio Camargo, ex-executivo da Toyo Setal.
Zarattini afirma que o zelo em relação a Cunha não tem tanto a ver com a preocupação em não atiçá-lo, para evitar que o pemedebista dê sinal verde a um processo de impeachment. Para o deputado, a tão esperada reação de Cunha - agora acuado - não se dará em função do "campo externo", mas dependerá do ambiente interno, no PMDB, caso a legenda aprove o rompimento com o governo. "Isso vai acabar acontecendo", diz o petista.
Tomada essa decisão coletiva, aí sim, a base aliada, sem os pemedebistas, ficaria muito enfraquecida, abrindo caminho para um possível processo de impeachment. "O Cunha não vai tomar uma posição individual. Vai aguardar o processo de afastamento do [vice-presidente da República Michel] Temer", afirma.
O parlamentar diz que há um grupo grande no PMDB que quer desembarcar do governo, mas que o "núcleo dirigente" de Dilma e o "pessoal da Mensagem" parecem não ter entendido o que está se passando.
Para Zarattini, a solução para a crise política requer uma profunda reforma ministerial, de modo que os titulares das pastas realmente garantam apoio das bancadas de seus partidos no Congresso, e que auxiliares próximos de Dilma sejam trocados. "Os deputados do PMDB, por exemplo, não se reconhecem nos três ministros [indicados como cota da bancada da Câmara]. E o núcleo [de governo] não ajuda", diz o parlamentar, para quem, apesar da crise econômica e da Lava-Jato, o fundamental é a política, onde o governo vai mal. "Há um desprezo grande pelo Parlamento, inclusive pela bancada do PT", critica.
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