segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Desemprego em alta – Editorial / Folha de S. Paulo

• Indicadores do mercado de trabalho refletem de forma preocupante a crise econômica; famílias de baixa renda sofrem mais

O mercado de trabalho sucumbiu ao caos da economia. A velocidade de fechamento de postos e de alta do desemprego é cada vez maior –e não há evidência de que vá diminuir em prazo curto.

No mês de julho, a taxa de desocupação passou de 6,9% para 7,5%. Verdade que o salto decorre mais do aumento de pessoas em busca de emprego do que de demissões, mas preocupa mesmo assim. Em um perspectiva mais ampla, a ocupação também se reduz.

Quanto a isso, os dados do Caged (que apura a geração líquida de empregos formais) não deixam dúvida. Em julho, a perda foi de 158 mil vagas, o pior resultado da série histórica; nos últimos 12 meses, chega a quase 780 mil.

Até 2014, o emprego se mantinha elevado, em notável dessintonia com o quadro depressivo que se anunciava. Talvez as empresas tivessem esperanças de que a incerteza seria passageira, vinculada ao clima eleitoral. É normal que procurem evitar variações bruscas em sua folha de pagamento –e custa caro contratar, treinar e demitir.

A incerteza permaneceu, a esperança se dissipou. O setor privado agora se movimenta no sentido inverso; uma vez iniciada a tendência de demissões, será difícil estancá-la, quanto mais revertê-la.

Na última década, a queda da informalidade e a melhora da qualidade de emprego foram essenciais para consolidar os ganhos de renda e consumo. São parte do enredo da criação da nova classe média, que começa a ser modificado.

A informalidade volta a crescer, os empregos se tornam precários, e as famílias, sobretudo de baixa renda, mudam de comportamento.

Um exemplo está na população jovem. Uma das razões para o desemprego ter-se mantido baixo nos últimos anos mesmo quando a economia já patinava foi a redução do contingente de pessoas em busca de trabalho na faixa de 15 a 24 anos. De 2005 a 2013, foram cerca de 4 milhões a menos.

Isso pode ter ocorrido pela melhoria de renda do resto da família, o que permitiu aos jovens buscar outras atividades –inclusive se manter por mais tempo nos estudos. Quando o orçamento aperta, talvez por alguém ter perdido o emprego, tudo muda.

Não por acaso, o maior aumento da desocupação se dá justamente entre os jovens. Se em julho de 2014 apenas 12,9% estavam desempregados, agora são 18,5%.

Esse contingente, mas não só ele, retorna ao mercado de trabalho no pior momento. Por isso, a desocupação cresce de forma acelerada: 9,4% no mês passado e nada menos que 56% no ano.

A tragédia dos erros e da arrogância do governo Dilma Rousseff (PT) na gestão da economia recai sobre os mais vulneráveis e põe a nu a ficção a que o país foi submetido.

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