• Senadores do PMDB defendem atuação do vice no debate político e dizem não ser hora de romper com governo
• Segundo peemedebistas, Temer tinha influência e o poder formal, mas não contava com o poder real
Catarina Alencastro, Fernanda Krakovics, Simone Iglesias e Julianna Granjeia – O Globo
Pressionado por parte do PMDB, o vice-presidente Michel Temer não tratará mais de cargos e emendas nas negociações políticas. -BRASÍLIA E SÃO PAULO- O vice-presidente Michel Temer informou ontem à presidente Dilma Rousseff que não cuidará mais da negociação de cargos e emendas parlamentares, o chamado “varejo”, com aliados e parlamentares. No entanto, segundo aliados do peemedebista, o vice vai continuar ajudando o governo a obter acordos no Congresso para as votações de interesse do Executivo, mas deixando as negociações de emendas e cargos apenas para situações pontuais.
— Temer está repactuando o modelo de atuação dele na articulação — afirmou um auxiliar de Dilma.
Padilha deixa Planalto
Também estiveram presentes ao encontro os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Eliseu Padilha (Aviação Civil). Era Padilha que, sob a batuta de Temer, vinha tocando a tarefa de tratar sobre cargos e emendas com aliados. Na reunião, Padilha disse a Dilma que continuará fazendo o trabalho na articulação política enquanto for necessário. Mas já não despachará mais do Palácio do Planalto, onde vinha ocupando uma sala para receber parlamentares. O assessor especial da presidente Giles Azevedo também tem feito parte da articulação e deve passar a ter maior atuação, segundo um ministro.
Na linha de frente de um governo que tem a menor taxa de aprovação desde José Sarney, peemedebistas demonstravam alívio ontem com a saída de Temer do comando da articulação política. Embora diminua o compromisso do partido com o governo, principalmente nas votações no Congresso, lideranças do PMDB afirmam que a atitude de Temer não significa um desembarque.
— A música vai continuar tocando. Só não vamos dançar agarradinhos — disse um integrante da cúpula do partido.
Concluída a votação do ajuste fiscal no Congresso, dirigentes do PMDB afirmam que o trabalho da articulação política se resumirá basicamente a administrar as CPIs no Congresso, especialmente as do BNDES e dos Fundos de Pensão. E eles não veem vantagem em assumir esse desgaste pelo PT, principal alvo dessas investigações.
Assessores da presidente avaliam que Temer e Padilha saem fortalecidos nesse novo modelo de articulação política, já que continuarão fazendo o trabalho que já faziam, mas sem serem responsabilizados quando não entregarem o que prometeram aos aliados. Havia um clima de desconfiança depois que Temer afirmou, há duas semanas, que “alguém” precisava unir o país, o que foi interpretado por ministros do PT como uma tentativa de desautorizar a presidente. Para completar, cresciam as reclamações de que os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) não cumpriam acordos de liberação de emendas parlamentares e preenchimento de cargos federais.
Para ilustrar esse quadro, um integrante da cúpula do PMDB cita que, depois de todo o esforço para recompor a base aliada, as duas principais nomeações que saíram foram para petistas: o ex- ministro Paulo Bernardo para a presidência de Itaipu e o ex-deputado João Paulo Lima para o comando da Sudene. As indicações sequer passaram formalmente pela mesa de negociações de Temer e Padilha.
— Michel tinha influência, tinha o poder formal, mas não tinha o poder real, a palavra final — disse esse peemedebista.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), afirmou ontem que Temer foi sabotado pelo governo e fez a opção correta ao deixar a articulação política do Planalto.
— Eu mesmo já estava ponderando que ele deveria deixar a articulação política, até porque ele foi muito sabotado esse tempo todo. Ele não tinha condições nenhuma de cumprir um trabalho pela sabotagem que foi feita ao longo de todo esse tempo — afirmou Cunha, após participar da reunião dos presidentes de assembleias estaduais, em São Paulo.
Cunha também defende que o congresso do PMDB, marcado para novembro, seja antecipado para discutir a saída da sigla do governo petista. Esse foi um dos temas da reunião, que aconteceu semana passada na capital paulista, entre o presidente da Câmara e Temer.
— Para nós, que defendemos a saída (do PMDB do governo), a gente vê (a saída de Temer da articulação) como um fator positivo. A antecipação do congresso do partido seria importante — disse Cunha.
Depois da conversa com a presidente, Temer se reuniu, no início da tarde, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), para discutir sua postura dentro do governo e a posição do partido. Renan e Eunício adotaram um tom mais afinado com o Palácio do Planalto: defenderam a presença de Temer nas discussões políticas do governo e disseram que não é hora de o PMDB romper com o governo. Temer disse que era preciso acabar com o “rame-rame” da articulação e criticou o tratamento recebido de Levy.
Senadores pedem calma
Temer contou que reclamou à presidente Dilma que foi desautorizado por Levy, que não liberou os recursos negociados por ele para as emendas dos parlamentares. No encontro, o líder do PMDB no Senado argumentou que Temer tinha que se manter nas negociações e que ele era vice-presidente. Outra avaliação do PMDB do Senado tem sido que um rompimento com o governo seria dar força ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e agravar a crise.
Eunício disse apenas que o PMDB precisa pensar no país:
— Minha opinião é que o PMDB não pode, neste momento, abandonar o país. Tenho dito que o golpe não está no DNA do PMDB.
Para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), a saída de Temer da articulação política “não muda nada” nas negociações do Planalto com a base aliada. O petista afirmou que caberá à presidente “dar os retoques finais” nas negociações com a base. (Colaboraram Cristiane Jungblut e Júnia Gama)
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