• Governo se anima por não ter sido degradado para o mundo dos caloteiros e com "menos chance de golpe"
Gente do governo estava ontem quase feliz com o que uma dessas pessoas que circula pelo Planalto chamou de notícias de "descompressão". O que seria isso?
Primeiro, teria havido "reversão no clima de golpe", com "apelos à moderação no empresariado, entre parlamentares e mesmo na mídia".
Segundo, houve o "apoio" do PMDB-Senado ao governo, com as medidas da "agenda estruturante" (o pacote Renan-Jucá), os quais no mínimo servem de termos para um armistício em uma das casas do Parlamento e de veículo para Joaquim Levy abrigar o corpo desfigurado de seu ajuste fiscal. Mais que isso, em termos de alívio da crise econômica, não é. No mais, há ali algumas ameaças de besteiras, como o risco de avacalhação do SUS e uma reforma "jabuti em árvore" de leis ambientais (que carecem de reforma, mas não assim).
Terceiro, o "resultado melhor do que o esperado da avaliação da Moody's", uma dessas empresas de avaliação de crédito, que ontem "apenas" rebaixou a nota de crédito do governo do Brasil, sem qualificá-lo de caloteiro em potencial. O governo, porém, temia ser degradado e degredado formalmente para o mundo dos "junk", onde na prática já está, dadas as taxas de juros que os donos do dinheiro exigem para ficar com títulos da dívida de governos e empresas do país, cortesia da ruína de Dilma 1.
Alegria de pobre dura pouco, como diz o povo, mesmo dos pobres de espírito e capacidades, e, para usar outra frase original, de cavalo dado não se olha a dentuça. Dado o estado terminal em que o governo entrou nesta semana, dá até para aceitar a ideia de "descompressão".
No entanto, nem se comprou a linha para começar a alinhavar um acordo político-politiqueiro que restabeleça a mínima ordem na economia, que começa apenas quando houver a perspectiva de que a dívida pública não vá crescer sem limite, como agora parece o caso. Não, não deve haver um desastre operístico, um cataclismo que anuncie o estouro pontual da dívida, não pelos próximos anos. Se nada for feito, vamos nos envenenar gradualmente, até que seja tarde demais.
Considere-se o assunto: o deficit público foi de 8,12% do PIB nos últimos 12 meses. A conta de juros foi de 7,32% do PIB (R$ 417 bilhões).
A conta de juros é abissal não apenas porque os juros estão demencialmente altos (cortesia da inflação e dos gastos loucos de Dilma 1). Cerca de um terço da despesa de juros vem do fato de termos reservas internacionais demais (reservas em "dólares", no BC), e de o governo ter emprestado meio trilhão de reais ao BNDES a juros baratinhos, crédito subsidiado para oligopólios (e, agora se vê, cartéis e coisa muito pior).
As contas estão fora do controle porque o governo não consegue pagar nem seus gastos primários (exclui juros) com o que arrecada. Parte da alta recente de despesas recentes vem da conta do prejuízo do Banco Central com a intervenção no câmbio, mais de 1% do PIB.
As despesas básicas são altas demais basicamente por causa de Previdência e vinculações da receita a gasto social.
Dar algum jeito nesse sistema de falência é o mínimo para evitar uma estagnação de década ou coisa pior. A "agenda estruturante" coloca um esparadrapo na ruína política iminente. Só.
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