quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Dilma reforça articulações para tentar estabilizar mandato

• Presidente acena ao PDT e pede a ministros do STF harmonia entre poderes

Simone Iglesias, Isabel Braga e Carolina Brígido – O Globo

Os acenos do governo à oposição, feitos na semana passada, esbarraram ontem em críticas ao PSDB feitas pela presidente Dilma e por petistas. - BRASÍLIA- Depois que o vice- presidente Michel Temer lançou um apelo ao entendimento, dizendo ser preciso “alguém com capacidade de reunificar a todos”, a presidente Dilma Rousseff arregaçou as mangas e mergulhou nas negociações para tentar dar estabilidade a seu mandato. Ontem, ao longo do dia, a presidente elogiou o pacote de medidas apresentado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), reuniuse com o PDT, que na semana passada anunciara independência da base aliada, e convidou para jantar os ministros do Supremo Tribunal Federal ( STF), última instância de recursos caso o Tribunal de Contas da União ou o Tribunal Superior Eleitoral lhe deem decisões desfavoráveis.

No jantar, Dilma fez um apelo pela harmonia entre os poderes. O discurso da presidente sensibilizou o presidente da Corte, ministro Ricardo Lewandowski, que defendeu o compromisso com a estabilidade institucional e a preservação da legitimidade de mandatos.

Além de Lewandowski, estiveram no jantar os ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Rosa Weber. O relator dos inquéritos da Operação LavaJato, Teori Zavascki, não compareceu. O decano da Corte, Celso de Mello, também declinou do convite. Outra ausência foi a de Marco Aurélio Mello, que considerou inconveniente a presença de todos os ministros do STF no jantar. Para ele, o cidadão comum pode interpretar como uma forma de submissão da Corte ao Executivo.

Na véspera, Dilma já havia recebido 43 senadores aliados para jantar no Palácio da Alvorada, e hoje deve se encontrar com o ex- presidente Lula.

Apelo ao PDT
No encontro que teve com o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e com o líder da bancada do partido na Câmara, André Figueiredo ( CE), Dilma pediu que a legenda repense a decisão de sair da base aliada. O PDT, ao qual Dilma foi filiada por anos, foi o escolhido para inaugurar o que deve se tornar uma série de conversas individuais com os dirigentes das legendas da base aliada.

— A presidente fez um apelo em nome da nossa história, em nome de uma relação de 30 anos que ela tem com o PDT. Disse que é muito ruim o partido deixar a base — disse Lupi.

Os pedetistas reclamaram de “maus- tratos” dos petistas no Congresso. Na conversa, Lupi nominou o líder do governo na Câmara, José Guimarães ( PTCE), que sistematicamente acusa a bancada do partido de “traidora”. Segundo Lupi, é difícil reverter a decisão de independência, mas a saída da base não significa criar problemas à governabilidade.

— Não vamos para a linha da oposição, de defender impeachment. Já vimos esse filme, e ele não é bom para o país — disse.

Apesar da saída da base, o PDT permanece no comando do Ministério do Trabalho. Lupi disse que o partido já colocou o cargo à disposição da presidente desde o ano passado.

— Nossa questão hoje é política, mais do que ocupação de cargos — afirmou.

Com o mesmo foco de melhorar a relação com a Câmara, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, foi à liderança do PMDB na Casa para conversar com o líder, Leonardo Picciani ( RJ).

— É minha obrigação. Nós do PMDB estamos no governo, temos o vice- presidente, e o diálogo é importante — disse.

Kátia Abreu afirmou ainda que a agenda positiva proposta pelo Senado mostra que o partido sempre está ao lado da responsabilidade fiscal e política. Indagada se a agenda ajuda a blindar o governo, Kátia afirmou que o importante é blindar o país. Sobre o momento político difícil que vivem o governo e Dilma, a ministra afirmou:

— A vida só é dura para quem é mole. A presidente Dilma não é mole. Vamos superar.

Lula também articula
Também presente na Câmara para participar de audiência pública, o ministro da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif, fez uma visita de cortesia ao presidente da Casa, Eduardo Cunha. Hoje, o vice Michel Temer tem duas reuniões importantes na tentativa de retomar o controle da base aliada: café da manhã com Lula, na residência oficial do Jaburu, ao qual devem comparecer o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex- presidente José Sarney, e almoço com a bancada do PMDB na Câmara, na casa do ex- deputado Tadeu Filippelli ( DF).

Ontem, Lula se reuniu com os líderes do PT no Senado, Humberto Costa ( PE); do governo no Congresso, José Pimentel ( PT- CE), e com o senador Lindbergh Farias ( PT- RJ).

(Colaboraram: Fernanda Krakovics e Maria Lima)

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