• Estratégia é seduzir deputados que analisarão impeachment
Alan Gripp e Jeferson Ribeiro - O Globo
Reformas ministeriais são, tradicionalmente, momentos de grande tensão política. Dividir o poder envolve obrigatoriamente desagradar a aliados, lidar com intrigas, resistir a interesses corporativos e, não bastasse tudo isso, tentar montar uma gestão eficaz, capaz de produzir marcas simbólicas para o governo.
A reforma em curso no governo Dilma é ainda mais complicada. Ocorre em meio a um recorde negativo de popularidade da presidente, com a base aliada conflagrada e, principalmente, durante a negociação de medidas cruciais para o futuro do governo. Não há espaço para erros.
As mudanças trazem outro complicador. Obrigada a adotar a austeridade econômica para acalmar os mercados, Dilma cortará dez ministérios e fundirá órgãos. Foi instada publicamente a fazer isso pelo próprio PMDB. Mas, como se sabe, cargo é palavra de ordem do principal aliado. Como saciar esse apetite com menos espaço? A conta não fecha.
O discurso austero peemedebista está mais para um jogo de cena. Há quem diga que se trata de uma armadilha. E que o PT mordeu a isca. Cortar ministérios agora é jogo dos mais arriscados, tem efeito apenas simbólico e não representa grande economia.
Ontem, a estratégia do governo ficou mais clara. O objetivo é seduzir a bancada peemedebista da Câmara, arena onde se darão disputas decisivas para Dilma: a votação dos vetos presidenciais, que podem ser fatais para uma economia respirando por aparelhos; as medidas do ajuste fiscal, em especial a CPMF; e, principalmente, o impeachment.
O Ministério da Saúde é um sonho de consumo dos deputados. Seus gastos têm enorme capilaridade e possibilitam que centenas de políticos colham dividendos em suas bases eleitorais.
Mas o jogo é mais complicado. Primeiro, porque o PMDB é muito maior e seus principais líderes têm interesses conflitantes. Há outros oito partidos aliados que também têm suas demandas. E a anunciada perda de espaço do PT pode ampliar o fogo amigo e silenciar quem ainda grita que impeachment é golpe.
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