• Crise. Proposta da presidente oferece duas pastas aos peemedebistas da Câmara, outras duas ao Senado e uma quinta a ser indicada em conjunto pelas duas bancadas de aliados; novo arranjo vai deixar PT sem a Saúde, o que gerou descontentamento dentro do partido
Vera Rosa Adriano Ceolin Daniel Carvalho – O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff decidiu oferecer cinco ministérios ao PMDB para atrair o apoio da legenda, aprovar o ajuste fiscal e barrar um possível processo de impeachment. Para tanto, sacrificou uma das principais pastas do PT, a Saúde, o que provocou descontentamento no seu partido. O ministério tem o maior orçamento da Esplanada e é comandado pelo PT desde o primeiro mandato de Dilma. A opção da presidente, porém, foi acalmar o PMDB diante do agravamento crise política.
À noite, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, foi chamado pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, no Palácio do Planalto. Na conversa, Mercadante disse a Chioro – homem da confiança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho – que o governo precisava do cargo para manter o PMDB na base aliada.
O governo contava, por exemplo, com o apoio do PMDB ontem à noite para barrar a chamada pauta-bomba do Congresso, que amplia os gastos do Executivo. Até a conclusão desta edição, no entanto, a votação não havia terminado.
Cotados. Um dos deputados cotados para substituir Chioro é Manoel Junior (PMDB-PB), ligado ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), que rompeu com o governo,mas tem aos poucos retomado as conversas com Dilma. O outro é Marcelo Castro (PMDB-PI).Dilma vetou Saraiva Felipe (PMDB-MG), que foi ministro da Saúde no governo Luiz Inácio Lula da Silva e teve o nome envolvido no escândalo dos sanguessugas.
Por 42 votos a 9, a bancada do PMDB na Câmara decidiu ontem continuar no governo e indicar nomes para a Saúde e para o novo ministério que deverá ser batizado de Infraestrutura, composto pela fusão de Aviação Civil e Portos.
O PMDB controla hoje na gestão Dilma seis pastas (Minas Energia, Agricultura, Turismo, Aviação Civil, Portos e Pesca). Comandava sete, mas Mangabeira Unger entregou o cargo na Secretaria de Assuntos Estratégicos, que deve ser extinta na reforma ministerial.
Poder. Embora aparentemente o espaço oferecido ao PMDB seja menor, na prática o partido terá bem mais poder e é considerado hoje fundamental para frear o impeachment. Além de ganhar o Ministério da Saúde, deverá dirigir Infraestrutura. A Pesca, por sua vez, será fundida com Agricultura.
Na lista dos cinco ministé- rios que o governo propôs ao PMDB, dois ficarão com a bancada do partido na Câmara, comandada pelo deputado Leonardo Picciani (RJ), e outros dois com a do Senado,liderada por Eunício Oliveira (CE).
O quinto nome deve ser de consenso, mas é aí que reside o problema. Dilma disse a interlocutores que quer manter Eliseu Padilha, hoje na Aviação Civil, na Infraestrutura. Mas a bancada da Câmara rejeita a ideia.
Picciani levará hoje a Dilma os nomes de Newton Cardoso Junior (MG), Mauro Lopes (MG) e José Priante (PA) para Infraestrutura.
O grupo do Senado, por sua vez, está de olho em Integração Nacional, hoje com o PP. Na negociação, o governo chegou a propor ao PMDB o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, hoje comandado por Armando Monteiro (PTB). Armando ficou magoado e pode sair.
Do lado do PMDB, ficam na equipe Kátia Abreu (Agricultura) e Eduardo Braga (Minas e Energia). Henrique Eduardo Alves deve permanecer no Turismo, e a Câmara indicará o titular da Saúde.
O vice-presidente Michel Temer amenizou os problemas. “Vamos dar tempo ao tempo.As bancadas vão se entender”, disse ele.Dilma também mexerá no núcleo duro do governo e o atual ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, assumirá a Secretaria Geral, que fará a articulação política com o Congresso. Além disso, os ministérios da Previdência e do Trabalho serão fundidos. Com as mudanças, o Planalto pretende se reaproximar do PMDB e dos outros partidos da base. / Colaboraram Erich Decat e Isadora Peron
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