Dilma divide PMDB e oferece cinco pastas para bancadas no Congresso
Por Raymundo Costa, Raquel Ulhôa e Raphael Di Cunto - Valor Econômico
BRASÍLIA - Em um movimento claramente anti-impeachment, a presidente da República, Dilma Rousseff, pediu para as bancadas do PMDB da Câmara e do Senado a indicação de cinco nomes do partido para o ministério. A presidente foi precisa nas instruções: os nomes deveriam ser de parlamentares, ou seja, com votos no Congresso. A ofensiva do Palácio do Planalto adia, mas provavelmente não impede o desembarque o PMDB da aliança com o PT, previsto para Congresso marcado para 15 de novembro.
Prevendo as reações no interior do PMDB, o vice Michel Temer, que também é presidente do partido, sugeriu a Dilma que ela adiasse o anúncio da reforma. Em princípio, o cronograma da presidente está mantido e os novos ministros serão conhecidos amanhã, antes do embarque de Dilma para os EUA, para a reunião anual da ONU. Temer deve ser o grande perdedor, a curto prazo, de uma reforma que o governo faz para atrair os votos do baixo clero e que talvez não baste para recompor a base política da presidente Dilma.
Nem mesmo a manutenção dos vetos que seriam votados ontem à noite podem ser atribuídos ao movimento anti-impeachment deflagrado pelo Palácio do Planalto. O Congresso passou o dia sob pressão da alta do dólar e ameaças de um novo rebaixamento da nota do país por agências de classificação de risco. Líderes governistas diziam que a moeda norte-americana chegaria a R$ 6, na hipótese de derrubada dos vetos. A tendência da Câmara era rejeitar pelo menos o veto do reajuste do Judiciário, mas o alarmismo econômico e o fato de a oposição liberar os votos de suas bancadas levaram a começar a rever suas posições no final da tarde. "O governo está sendo salvo pelo PSDB", era a avaliação do PMDB no Senado.
A ação da nova coordenação política do Palácio do Planalto foi recebida no PMDB como uma tentativa de rachar o partido. É certo que num primeiro momento a presidente pediu para Michel Temer e para os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, a indicação de nomes para o ministério. Os três se recusaram a fazer indicações. Dilma então fez o pedido diretamente às bancadas. Os dois atuais ministros do Senado, Eduardo Braga (Minas e Energia) e Kátia Abreu (Agricultura), mas a Câmara escolheu três nomes para apresentar, em reunião da bancada à tarde.
As escolhas ampliam o conflito interno do PMDB. Dilma pediu nomes para o Ministério da Saúde, mas vetou a indicação do ex-ministro Saraiva Felipe (MG), cuja nomeação poderia facilitar um projeto acalentado pelo líder Leonardo Picciani (RJ) de ser reconduzido ao comando da bancada. Os pemedebistas indicaram José Priante (PA), Mauro Lopes (MG), Newton Cardoso Júnior (MG) e Celso Pansera (RJ) para a Pasta que resultará da fusão da Aviação Civil e dos Portos e Manoel Júnior (PB), Marcelo Castro (PI) e Saraiva Felipe (MG) para a Saúde.
Segundo aliados de Picciani, a participação direta no governo foi aprovada por 42 votos a 9. Já o
grupo de oposição, e que defende o impeachment da presidente, diz que o apoio foi menor, de 26 a 13, e que parte expressiva dos parlamentares não se manifestou na reunião. Os deputados decidiram também fechar questão pela manutenção de todos os vetos presidenciais.
A indicações da Câmara tendem acentuar os conflitos internos do PMDB. Um exemplo é a indicação de José Priante, sobrinho e ex-aliado do cacique local do PMDB, Jader Barbalho, mais bem cotado para a pasta de Infraestrutura. O que irritou Jader é que sequer foi avisado da reforma e da indicação de Priante, hoje seu inimigo político. Quando Renan Calheiros estava virtualmente na oposição, foi Jader que articulou a defesa de Dilma no Senado.
Frasista de mão cheia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima definiu a situação ao colegas: "Antigamente, era o fisiologismo que ia ao Palácio do Planalto; agora é o Palácio do Planalto que vem ao fisiologismo". A maior prova que a nova articulação política do governo tem como prioridade a blindagem do mandato de Dilma é a entrega do Ministério da Saúde, um dos maiores orçamentos do governo, para o baixo clero do PMDB.
O ministro Henrique Alves disse que conseguiu articular o apoio da bancada para sua manutenção no cargo, mas Pansera é cotado para o cargo. Pansera é o deputado que o doleiro Alberto Youssef declarou ser "pau mandado" de Eduardo Cunha, durante um depoimento na CPI da Petrobras.
A manobra de Dilma só foi possível graças à cooptação de Leonardo Picciani e de seu pai Jorge, deputado estadual no Rio, por meio do governador do Estado, Luiz Fernando Pezão. Logo no início da reunião da bancada do PMDB, ao ouvir o relato de Picciani sobre sua reunião com Dilma, o deputado Jarbas Vasconcellos (PE) deixou a sala: "Este governo está por um fio. Ou cai pela renúncia ou cai pelo impeachment. É um retrocesso o PMDB indicar nomes."
No desenho apresentado ontem, os ministros Eliseu Padilha (Aviação Civil) e Henrique Alves (Turismo", dois nomes ligados a Michel Temer, deixariam seus cargos. Os dois estão sem mandato e não têm votos no Congresso. A dúvida entre os deputados era a saída de Padilha, cuja atuação na coordenação política foi considerada leal e elogiada pela própria Dilma. A nomeação da senadora Kátia Abreu como embaixadora de Dilma junto ao PMDB também não teve o agrément da cúpula. Segundo senadores do PMDB, a ministra da Agricultura pediu para ir a um jantar dos dirigentes partidários para explicar suas novas funções.
Segundo três senadores presentes, Kátia disse que nunca foi sondada para ir para a Casa Civil nem tampouco recebeu pedido da presidente para mandar recados ao partido. A avaliação dos senadores é que provavelmente tudo não passou de uma operação do Planalto para consolidar a posição de Aloizio Mercadante (Casa Civil), que vinha recebendo críticas de setores do próprio partido. Com os boatos de que Kátia iria substituí-lo, a preocupação foi tanta no PT que o partido se uniu para manter Mercadante. Segundo apurou o Valor, na conversa que teve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma teria dito que concordava tirar Mercadante do Planalto, mas nomearia Kátia Abreu para o lugar.
A curto prazo, a manobra de Dilma no PMDB pode arrefecer o ânimo de alguns setores da bancada, que devem diminuir à medida que os novos ministros perceberem que não têm recursos e nem autonomia no cargo.
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