Por Raquel Ulhôa - Valor Econômico
BRASÍLIA - Um ano após declarar-se "independente" em relação ao governo Dilma Rousseff - para evitar divisões do partido após a morte do seu então presidente, Eduardo Campos -, o PSB planeja assumir oficialmente na próxima semana a oposição à gestão da petista e colocar-se contra a recriação da CPMF. Além disso, a tendência majoritária das bancadas da Câmara dos Deputados e do Senado é favorável a um processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A nova postura será formalizada em reunião da Executiva Nacional, mas a opinião majoritária pela oposição ao governo Dilma foi explicitada ontem por deputados federais, senadores e governadores do PSB, ouvidos pela direção nacional. A mudança de comportamento partidário ocorre por dois motivos principais: as pressões (da sociedade e do governo) para que as bancadas se posicionem em relação à CPMF e a avaliação de que o processo de impeachment da presidente está cada vez mais próximo.
A cúpula saiu do encontro certa da decisão a ser oficializada pela Executiva. "Percebi claramente, sem deixar dúvida, que a posição é muito firme em três pontos. Primeiro, que o PSB deve sair da independência para uma posição clara e responsável com o país. Segundo, há tendência bastante forte de que, se o impeachment chegar ao plenário da Câmara, será aprovado também pela nossa bancada. Terceiro, com relação à CPMF a posição é unânime: ninguém aprova", afirmou o presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira.
"Um processo de impeachment está em marcha e, se ele entrar na Câmara, ninguém segura. O voto é aberto. Acaba o governo. E evitar que isso ocorra não é tarefa do PSB", diz Beto Albuquerque, vice-presidente da legenda. A avaliação é que o governo Dilma acabou, está sem rumo, sem propostas para os problemas do país e sem apoio do próprio partido da presidente.
Siqueira e Albuquerque sempre tiveram postura mais dura em relação ao governo, mas o que se viu na reunião desta terça-feira foi uma sintonia maior dos parlamentares e governadores com a direção partidária do que se via nas reuniões anteriores.
"Por sorte, hoje as duas bancadas concordam que essa decisão de ir para a oposição e de apoiar o impeachment se faz necessária neste momento. Essa opinião é esmagadoramente majoritária", disse Siqueira, calculando que ela representa mais de 90% da legenda. Segundo ele, o PSB fará oposição de centro-esquerda e não planeja aliança com o PSDB.
Até mesmo os governadores Paulo Câmara, de Pernambuco, e Rodrigo Rollemberg, do Distrito Federal, manifestaram-se favoravelmente à oposição a Dilma, embora mais cautelosos com relação a eventual impeachment. Dos três governadores do PSB, Ricardo Coutinho manteve-se mais moderado quanto ao papel do partido. Mas ficou isolado.
"O país parou. A governança inexiste. Uma posição como nós estamos, de independência, não combina com a situação do país." afirma Câmara. Para o governador de Pernambuco, o PSB precisa ser mais "proativo" e rediscutir a independência, que não combina com o momento atual. "O país precisa reagir, precisa de ações. Está parado hoje. Então a independência, postura em nos colocávamos para apoiar aquilo que é importante e ser crítico das coisas que não estão andando, hoje não combina. Não tem nada sendo proposto, fora esse ajuste que está desconecto." Câmara é contra o impeachment de Dilma e propõe oposição "responsável", como, por exemplo, não votar pela derrubada dos vetos a projetos que aumentem gastos.
Após fazer um relato da "situação dramática" das finanças do Distrito Federal, Rollemberg disse na reunião que o PSB precisa enfrentar o debate político e econômico e ter coragem de assumir as consequências. Também disse não ser favorável ao impeachment, mas disse que a indefinição em relação aos rumos do país está levando o Brasil "para um abismo".
"A presidente Dilma não consegue criar condições para o país melhorar. Está faltando capacidade do governo de retomar as rédeas e governar. E a oposição tem medo de assumir seu papel. Falta um líder com coragem para tomar posição a favor ou contra o impeachment, que tire o Brasil dessa falta de perspectiva. O PSB deve ser o diferencial".
Com relação à CPMF, os participantes da reunião avaliaram que, da forma como a ideia foi lançada, não há chance de aprovação e não deve sequer ser apresentada para tramitação.
O secretário-geral do PSB, Renato Casagrande, engrossou as críticas e endossou a decisão de o partido se assumir como oposição. Segundo ele, o governo não consegue responder às crises vividas pelo país e apresentar propostas aos problemas da população. Para ele, o tempo do governo está acabando. O impeachment pode ser menos traumático e trazer instabilidade menor do que a vivida atualmente pelo país.
"Ninguém gostaria de chegar o momento de discutir o impeachment. Mas, se o governo não consegue responder [aos problemas do país], acaba ampliando muito a instabilidade e as incertezas, por um tempo muito longo. Ou ele responde efetivamente ou as lideranças políticas no Congresso vão ter que dar um desfecho para essa crise".
Carlos Siqueira diz que o governo "acabou" é está "moribundo". Segundo ele, o país não aguenta sangrar por muito tempo mais. "Temos que encontrar um meio de superar esse sangramento em benefício do país e da sua população", diz. Siqueira vai consultar os integrantes da Executiva Nacional para marcar o dia da reunião.
Nenhum comentário:
Postar um comentário