Sem citar as acusações contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, líderes da oposição entregaram a ele ontem novo pedido de impeachment da presidente Dilma. No Senado, o governo ganhou 45 dias para apresentar defesa sobre as “pedaladas fiscais”.
Oposição entrega novo pedido de impeachment, mas poupa Cunha
• Justificativa para mais um requerimento é que ‘pedaladas’ se repetiram este ano
Evandro Éboli, Júnia Gama - O Globo
-BRASÍLIA- Sem mencionar as acusações de corrupção contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os líderes da oposição entregaram ontem ao peemedebista novo pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Cunha os recebeu em seu gabinete e disse que vai apreciar o pedido com celeridade, mas respeitando a Constituição e com isenção. Integrantes de movimentos de rua que defendem o afastamento da presidente também compareceram. O pedido, de 64 páginas, foi entregue em três caixas de documentos, com anexos.
Nos discursos, os opositores defenderam o impeachment, mas não fizeram qualquer crítica a Cunha, que deverá ser alvo de processo no Conselho de Ética. No gabinete de Cunha, a filha do jurista e ex-petista Hélio Bicudo (um dos idealizadores do pedido), Maria Lúcia Bicudo, defendeu a volta dos manifestantes às ruas. O líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), também no gabinete, fez duras críticas a Dilma e ao PT
.
— A corrupção é a marca deste governo — disse Sampaio.
Cunha não marcou data para responder ao pedido entregue ontem.
Conselho de Ética pode atrasar análise
Ao final do dia, os deputados da oposição decidiram fazer uma “reflexão” sobre a viabilidade do processo de impeachment. Cunha disse aos líderes oposicionistas que decidirá até 15 de novembro sobre o pedido protocolado ontem. Mas os deputados acreditam que o tempo da decisão de Cunha será pautado pela sua situação no Conselho de Ética.
As apostas são de que, antes de fevereiro, nada conclusivo sairá do colegiado, onde o peemedebista trabalhará para prorrogar o máximo possível qualquer decisão. Ele é acusado de receber propina do esquema investigado pela Operação Lava-Jato. O Ministério Público da Suíça já enviou documentos comprovando que Cunha tem contas não declaradas no exterior.
Entre muitos oposicionistas a sensação é de cansaço em relação à novela do impeachment, e de alerta pela necessidade de começar a desvincular suas agendas da tocada por Cunha. Os líderes oposicionistas dizem que é preciso estabelecer uma “nova fase”:
— A interpretação do Supremo jogou nas mãos do presidente da Câmara a decisão exclusiva sobre o impeachment. E o tempo do presidente da Câmara não será o tempo das oposições. Se isso não avançar, temos que ter agendas alternativas para o Brasil — afirmou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE).
— Não podemos perder a rotina das oposições para esperar o tempo do Eduardo Cunha decidir. Temos que nos posicionar sobre a DRU, bloquear a CPMF. Não podemos ser monotemáticos sobre o impeachment durante todo o ano — disse o líder da Minoria, Bruno Araújo (PE).
Um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre, Kim Kataguiri, acompanhou a entrega da petição e discursou. Ele também não citou as denúncias contra Cunha, mas disse que as próximas manifestações de rua vão incluir atos contra a saída do presidente da Câmara.
— Defendemos a saída do Eduardo Cunha. Só que ele é a única pessoa no mundo que pode dar sequência ao impeachment da Dilma.
O novo pedido é assinado por quatro juristas: Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior, Janaína Paschoal e Flávio Costa. O documento inclui as chamadas “pedaladas fiscais”, que, segundo o Ministério Público no TCU, teriam se repetido em 2015. O tribunal rejeitou as contas de Dilma de 2014 por conta dessa prática contábil.
“O Brasil está mergulhado em profunda crise. Muito embora o governo federal insista que se trata de crise exclusivamente econômica, na verdade, a crise é política e, sobretudo, moral”, diz a petição dos juristas.
O documento diz ainda que, na esteira do mensalão, foi deflagrada a Operação Lava-Jato, “que em cada uma de suas várias fases colhe pessoas próximas à presidente, desconstruindo a aura de profissional competente e ilibada, criada por marqueteiros bem pagos”.
Governo: Oposição é 'música de uma nota só'
Doze deputados de PSDB, DEM, PPS, Solidariedade e até um do PMDB — Darcísio Perondi (RS) — acompanharam a entrega da petição.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), reagiu à iniciativa da oposição. Disse que o impeachment é página virada e que a oposição toca uma “música de uma nota só”. Ele perguntou aos jornalistas se já não estavam “de saco cheio” com o tema.
— Será que a oposição não pode virar de página. Esse assunto é página virada. Não há ambiente político para essa pauta. A oposição não faz outra coisa. Não discute o país. Está completamente fora do eixo — disse Guimarães: — É sempre essa mesma música, no mesmo tom, a mesma nota. Vocês não estão de saco cheio? Infográfico: as ameaças ao futuro do governo Dilma
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