sábado, 31 de outubro de 2015

Um programa antieleitoral

• Documento do PMDB responde aos desafios econômicos de longo prazo e às inseguranças políticas imediatas

Paulo Celso Pereira - O Globo

BRASÍLIA Apresentado como a base do programa de governo do PMDB para 2018, o texto econômico lançado na quinta-feira pelo vice-presidente Michel Temer e pelo ex-ministro Moreira Franco responde não só aos desafios estruturais do longo prazo, como também às inseguranças políticas imediatas. Ele começou a ser elaborado há dois meses, quando o risco de impeachment da presidente Dilma parecia iminente. Não à toa, o texto é aberto por referências à necessidade de pacificação nacional e apresenta um rol de medidas defendidas amplamente por empresários e pelo mercado financeiro.

É difícil imaginar, no entanto, que algum peemedebista coloque o rosto na TV para pedir votos à Presidência defendendo o fim dos gastos mínimos com Saúde e Educação, da indexação da Previdência e dos benefícios sociais ao salário mínimo (cerca de 70% dos aposentados recebem o piso atrelado ao mínimo) e a prevalência dos acordos coletivos sobre a lei. São medidas consideradas fundamentais para o reequilíbrio fiscal e a retomada do crescimento econômico. Só que por temas muito menos palpitantes para o eleitor, como a independência do Banco Central e o papel dos bancos públicos, Marina Silva e Aécio Neves foram trucidados pela campanha do PT.

Um observador mais maquiavélico, no entanto, poderia ver uma outra hipótese para o nível de impopularidade adotado no texto. Muitos parlamentares avaliam que o impeachment não prosperou até agora pela falta de acordo de peemedebistas e tucanos em relação ao “dia seguinte”. Os tucanos têm dois temores: um governo Temer dar muito certo — e ele se tornar candidato natural à reeleição, tomando o favoritismo do PSDB para 2018 —, ou o governo dele ser um fracasso retumbante, contaminando os neoaliados com sua impopularidade.

Alguns dos mais próximos auxiliares de Temer vinham emitindo sinais à cúpula do PSDB de que caso o vice assumisse o Planalto, ele se comprometeria a fazer apenas um governo de transição, com as duras e impopulares reformas necessárias para reorganizar as contas do país e entregar uma nação governável em 2018 a quem for eleito. Intencionalmente ou não, o documento intitulado “Uma Ponte Para o Futuro”, colocou isso no papel.

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