- O Globo
A partir da disputa para formar a comissão da Câmara que analisará o pedido de impeachment da presidente Dilma, teremos condições de verificar o balanço das forças políticas em jogo. Provavelmente, a oposição e dissidentes do PMDB e da base aliada governista apresentarão uma chapa alternativa, caso o vice-presidente Michel Temer e seu grupo mais próximo não tiverem conseguido durante a noite alcançar o consenso dentro do partido para a indicação no mínimo equilibrada de dilmistas e antidilmistas na comissão.
Existe a convicção na direção nacional do partido de que a bancada dividida — Leonardo Picciani foi eleito líder por uma diferença de um voto — não pode ser representada apenas por governistas, inclusive porque o sentimento de oposição ao governo prevaleceria nos 27 diretórios do partido que estão sendo consultados pelo próprio Temer e seus assessores mais diretos, como os exministros Eliseu Padilha e Moreira Franco.
A relação deteriorada entre Temer e a presidente Dilma esgarçou-se mais ainda com o episódio da carta enviada, em caráter pessoal, pelo vice à presidente. A carta tem o tom mais de lamento do que de rompimento, pois Michel Temer reclama que desde sempre a presidente Dilma tem demonstrado não confiar nem nele nem no PMDB.
O vice-presidente enumera uma série de fatos que demonstrariam essa falta de confiança, entre eles a interpretação, pelo Planalto, de que o programa partidário “Uma ponte para o futuro” seria mais um instrumento conspiratório do partido do que uma proposta de saída da crise para o governo.
Irritou bastante o vice a interpretação, que eles atribuem a assessores presidenciais, de que a carta representaria um rompimento de Temer com Dilma. A divulgação dessa interpretação seria mais uma das muitas tentativas de intriga de assessores palacianos.
À falta de demonstrações claras de que a presidente conta com Temer como um aliado, ele próprio e seus assessores mais próximos consideraram “um deboche” a declaração da presidente Dilma de que não desconfia “nem um milímetro” do vice.
O fato de terem lido a carta enviada como um rompimento, e não como um desabafo pessoal de Temer, mostra para o vice-presidente que já não há mais espaço político para uma retomada de diálogo.
O desenlace da crise, com a abertura de prazos para o processo de impeachment, tornou irreversível a situação política, e agora a disputa se dará dentro da comissão e no plenário da Câmara em sua 1ª etapa.
A convocação extraordinária do Congresso por parte da própria Dilma — que ontem ressaltou ser esse um direito seu garantido pela Constituição — é considerada improvável pela oposição. Consideram que o governo não dispõe de uma maioria que lhe garanta o funcionamento do Congresso no recesso, e o mais provável é que os trabalhos sejam obstruídos pela oposição e por dissidentes da base governista, desgastando mais ainda o governo.
Há uma alternativa, que também não agrada à oposição, que seria encurtar o recesso, fazendo com que os parlamentares pudessem voltar no início de janeiro, depois de passarem as festas de fim de ano e o réveillon. A oposição e os dissidentes querem manter o recesso até o início de fevereiro, e o governo não parece ter maioria suficiente para aprovar a convocação extraordinária.
Todas as manobras para a formação da comissão e a convocação extraordinária são como uma prévia do embate que se travará no plenário da comissão, e obrigarão a que peemedebistas indecisos tenham que assumir suas posições. Mesmo ministros do governo Dilma mais ligados a Temer, como Henrique Alves e Helder Barbalho, não terão ambiente político para se manter nos dois barcos.
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