Por Andrea Jubé e Thiago Resende – Valor Econômico
BRASÍLIA - O desembarque do ministro Eliseu Padilha do governo expõe a divisão interna no PMDB quanto ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e evidencia o distanciamento, já na largada, da cúpula partidária. Os outros seis ministros pemedebistas não acompanham Padilha agora, mas aguardam a reação das ruas para tomar uma posição alinhada. Ciente da fragmentação do aliado, Dilma investe nos canais diretos de interlocução com líderes das diferentes alas do partido.
Todos os outros seis ministros do PMDB avisaram Dilma que seguem nos cargos e apoiando-a neste momento: Eduardo Braga (Minas e Energia) e Kátia Abreu (Agricultura), que representam a bancada do Senado, Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), indicados pelo PMDB da Câmara, Hélder Barbalho (Secretaria de Portos), filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e Henrique Alves (Turismo), avalizado pelo vice-presidente Michel Temer.
Um desses seis ministros afirmou ao Valor que, neste momento, o grupo cumprirá o papel de governo e aliado de Dilma. A palavra de ordem interna, contudo, é cautela e ouvidos em alerta para "escutar a voz das ruas".
Este ministro pondera que o processo de afastamento vai se arrastar até o ano que vem. No fim de ano, os brasileiros estão envolvidos com Natal e Ano Novo, e os protestos inflados são aguardados para o final de janeiro. Mas se entre janeiro e março - quando o assunto dominar a pauta do Legislativo - multidões tomarem praças e avenidas contra a presidente, a fonte afirma que esse movimento contaminará os parlamentares. Com o povo contra Dilma, os deputados não deverão salvá-la. "O julgamento será político, e não jurídico", adverte.
Consciente da divisão no PMDB e sem o apoio do vice Michel Temer, Dilma investe na interlocução direta com líderes da sigla. Na quinta-feira, reuniu-se com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que garantiu a aprovação do projeto de revisão da meta fiscal de 2015 ao impedir que o anúncio do impeachment derrubasse a sessão do Congresso. Também enviou emissários até o ex-presidente José Sarney, que mandou dizer que está ao seu lado. Sarney recomendou a Dilma que "vigie" Temer, não o deixe se afastar dela. "Vigiai", orientou o cacique. Outro aliado de peso no PMDB é o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, com quem Dilma conversa quase diariamente.
O Palácio do Planalto também autorizou o líder pemedebista na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), a sondar um dos nomes da bancada mineira para assumir a Secretaria de Aviação Civil (SAC) no lugar de Padilha. Picciani afirma que não houve um convite oficial para que a bancada assuma a SAC, mas os deputados Leonardo Quintão e Mauro Lopes, ambos de Minas Gerais, foram sondados. O objetivo do governo é consolidar o apoio da bancada - que já arrebatou as pastas da Saúde e Ciência e Tecnologia em troca dos votos contra o impeachment.
Mas a bancada mineira não cedeu e quer antes se reunir com Michel Temer para obter uma orientação do presidente da sigla. "Temer é a maior liderança do PMDB, precisamos ouvi-lo", disse Leonardo Quintão. Um outro deputado complementou que o momento pede cautela. "Não podemos dar um tiro no pé". Henrique Alves, o segundo nome mais ligado a Temer, ainda resiste às pressões da cúpula para deixar o Turismo.
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