- Folha de S. Paulo
A rapidez da deterioração do quadro político e econômico impressiona mesmo os mais otimistas governistas. Apenas Dilma Rousseff parece ver um desfecho favorável para a crise, e mesmo assim sua confiança emana de vias tortas: certo alheamento aparente da realidade e uma crescente confusão em suas manifestações públicas.
Em Brasília, o fim do governo voltou a ser tratado com a trivialidade reservada ao rebaixamento de um time de futebol; é mais o formato do evento em debate, não o desfecho.
Exagero? É fato que o tema impeachment já foi e voltou ao longo deste calvário chamado segundo mandato, e uma intervenção lulista pode até dar sobrevida ao governo. A extensão de prazo à Sarney é lembrada. Mas o tempo parece exíguo.
Mas se o impedimento antes carecia de "casus belli", agora não há apenas um, mas dois em gestação.
A provável reprovação das contas de 2014 da presidente pelo TCU deixará o Congresso com a faca e o queijo na mão. Se ratificar tal julgamento, um pedido de impeachment será quase imediato. Com a palavra estará ele, Eduardo Cunha.
A segunda frente é o TSE, corte em cujos escaninhos processuais fermentam sortilégios para Dilma. O processo de cassação se aproxima perigosamente dos procedimentos petistas no pleito de 2014.
Os últimos petistas no barco gritarão "golpe!" e talvez até lembrem da definição grega de "casus belli", as "proschemata" --razões da guerra descritas pelo historiador ateniense Tucídides ao relatar o conflito no Peloponeso, invariavelmente escamoteando as verdadeiras intenções.
Pode ser, já que PMDB e PSDB querem ver Dilma pelas costas. A questão é que os fatos são graves, visíveis, e o governo está exaurido para defender-se como fez Lula em 2006. Neste caso, teremos um "Götterdämmerung" petista, o crepúsculo dos deuses wagneriano, desprovido porém de personagens à altura do drama.
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