Mario Cesar Carvalho, Graciliano Rocha – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Eleito um dos alvos preferenciais da Operação Lava Jato depois que o lobista Fernando Soares, o Baiano, apontou o seu envolvimento em casos de suborno, o pecuarista João Carlos Bumlai é um dos poucos amigos de Lula que goza da intimidade do ex-presidente.
Bumlai viajava na mesma cabine que o petista no avião presidencial, enquanto outros empresários ficavam em outra área, participava de churrascos no Palácio do Alvorada e de pescarias em Mato Grosso do Sul.
A imagem de pecuarista, porém, não contempla todos os predicados de Bumlai. Engenheiro de formação, ele vem do mundo das empreiteiras: trabalhou por 30 anos na Constran na época em que a empresa pertencia ao empresário Olacyr de Moraes (1931-2015).
O pecuarista foi apresentando a Lula em 2002 por Zeca do PT. Lula era candidato à Presidência e Zeca, ao governo do Mato Grosso do Sul.
Após emprestar a fazenda para Lula gravar programas de TV de sua campanha, Bumlai passou a usar o nome do então presidente para fazer negócios. Lula parecia não se importar com o uso de seu nome, até que foi revelado que Baiano disse, em sua delação, que Bumlai lhe pedira R$ 2 milhões para uma das noras de Lula. Só agora ele se queixou do amigo.
Bumlai usou a amizade com Lula para intermediar negócios na Petrobras, no BNDES e na Eletrobras, como a usina Bela Monte.
Apesar de todo o prestígio que tem no mundo empresarial e do uso do nome de Lula, Bumlai está quebrado. O negócio que o afundou foi uma usina de etanol em Dourados (MS) chamada São Fernando.
Por conta da política do governo Dilma de subsídio à gasolina para segurar a inflação, o que levou o setor de álcool a afundar numa crise, a usina São Fernando entrou em recuperação judicial, com dívidas de R$ 1,2 bilhão, principalmente com bancos.
Bumlai teve de se desfazer da joia da coroa. Ele vendeu a fazenda Cristo, propriedade de 120 mil hectares no Pantanal, ao banqueiro André Esteves. Das 150 mil cabeças de gado do passado restaram pouco mais de 5.000 em outras três fazendas menores administradas pelos filhos.
Antes de aparecer na Lava Jato, Bumlai foi investigado num escândalo em Campinas (SP) que envolvia o PT, a Camargo Corrêa, a Constran e a Sanasa, companhia de saneamento da cidade, em 2012. Segundo a Promotoria, Bumlai pagava propina a petistas.
Em conversa interceptada, Bumlai dizia que poderia delatar para "proteger Lula". A acusação contra ele, porém, foi arquivada.
Outro lado
A defesa de José Carlos Bumlai chamou as acusações de "disparate" e disse que o empresário "jamais deu um centavo" ao ex-presidente Lula ou parentes dele. Segundo o advogado Arnaldo Malheiros Filho, os negócios privados de Bumlai "não se revestem da ilegalidade com que se procura incriminá-lo".
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