- Folha de S. Paulo
O Brasil está "perdendo feio" a batalha para o Aedes aegypti. O diagnóstico foi feito ontem pelo ministro da Saúde, Marcelo Castro. A declaração irritou a presidente Dilma Rousseff, que o convocou para uma conversa a sós no Planalto.
A rigor, não houve novidade nas palavras do ministro. Ele apenas repetiu o que dissera na sexta passada, no Piauí. Na ocasião, a chefe parece não ter ouvido. Agora que ouviu, não gostou. Castro foi ao palácio com a certeza de que levaria um sabão.
O ministro está no cargo há menos de quatro meses. Ainda não disse a que veio, mas já se notabilizou pelas frases desastradas. Há duas semanas, afirmou que o vírus zika pode produzir uma "geração de sequelados". É difícil imaginar uma insensibilidade maior com os pais de bebês que nasceram com microcefalia.
Castro também disse "torcer" para que as mulheres em idade fértil peguem a doença antes de engravidar. Completou a frase com uma risada, em outra atitude imprópria para o cargo e a gravidade da situação.
Deputado do chamado baixo clero, o peemedebista nunca havia sonhado a sério em virar ministro da Saúde. Foi alçado ao posto em uma barganha explícita por votos contra o impeachment. Ninguém precisava ter doutorado em epidemiologia para saber que não poderia dar certo.
A avaliação geral em Brasília é que Castro está aquém do cargo. Sua equipe demorou demais a reagir ao surto do zika, que se espalha em velocidade alarmante. De quebra, o país acaba de bater o recorde anual de casos de dengue, também também transmitida pelo Aedes. Em 2015, a doença atingiu a marca de 1,6 milhão de registros, com 863 mortes.
Apesar da nova demonstração de inabilidade política, o ministro não errou ao dizer que estamos perdendo a batalha para o mosquito. Ele apenas admitiu uma verdade incômoda para o governo e triste para todo o Brasil. Diante da emergência do zika, a sinceridade que irritou Dilma é o menor dos problemas.
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