- Folha de S. Paulo
A primeira reação dos porta-vozes do "mercado" à reviravolta do Banco Central na semana passada foi, como previsível, chutar para cima as previsões de inflação para este e para os próximos anos. Chutaram bem.
As reações ao desgoverno da economia não vão parar por aí, a não ser que os economistas de Dilma Rousseff tomem tento. Além da ruína deixada por 2015, a finança mundial está uma muvuca e, por enquanto, não há política econômica no Brasil (metas e instrumentos críveis para administrar pelo menos gasto e dívida públicos, juros e inflação, grosso modo).
A semana até poderia ter a cara de reestreia dos economistas de Dilma. Mas pode ser o começo do fim.
Nesta semana, o BC solta a exposição de motivos de sua decisão ("Ata do Copom"). Também nesta semana, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, faz um discurso no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, no qual vai debutar, vai ser apresentado à sociedade, digamos assim, um tanto mas não muito ironicamente.
Ninguém espera grande novidade de Barbosa no Conselhão (composto de empresários, representantes de organizações sociais etc. convidados pelo governo). Ou seja, seria uma surpresa se viesse algo diferente da linha "manter o ajuste fiscal" (que ora não há, nem na realidade nem em planos de papel), um plano de reformas (vagas e poucas, se tanto), implementação do plano de concessões (obras de infraestrutura), grandioso de metas e pífio na prática, e algum estímulo menor no crédito.
Pois bem, se não houver surpresa, não vai prestar. Quase ninguém, pelo menos na praça do mercado, acredita que essa política econômica feijão com arroz com um torresminho de crédito vá tirar o país do atoleiro (nem acredita, nem vai).
Quanto às expectativas de inflação, a coisa está feia, a julgar pela primeira resposta "oficial" dos povos dos mercados.
Espera-se inflação de 7,23% em 2016, na mediana dos chutes informados pela centena de instituições financeiras e consultorias ouvidas semanalmente pelo BC, dados de sexta-feira, divulgados ontem. Sim, inflação de sete é menor que inflação de quase onze, como em 2015. Mas é bom lembrar que, bem entrado 2015, o BC ainda dizia que o IPCA terminaria 2016 em 4,5%.
Agora, além do mais, os povos dos mercados esperam inflação de 5,65% em 2017. Longe da meta de 4,5%. A caminho do teto da meta para o ano que vem, de 6%.
Como se sabe, na semana passada, o BC trocou de roupa em público, de modo inopinado, escandalizou os mais puritanos e suscitou chacota ao mudar de opinião sobre a taxa de juros, de um dia para o outro, depois de meses dizendo que pegaria pesado com a inflação.
Por mais descrente que uma criatura seja a respeito de metas e expectativas de inflação, é difícil negar que, pelo menos, expectativas mais altas vão dificultar a tarefa de conter os preços. Ainda mais grave, não se sabe agora quais instrumentos o BC vai empregar a fim de evitar inflação mais alta, se algum.
Pode até ser que a inflação de fato "surpreenda", caindo mais que o previsto pelos economistas "do mercado". Talvez não seja uma alegria. Pode ser só que os salários estejam sendo destroçados devido a uma alta mais rápida do desemprego.
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