• Analistas ouvidos pelo BC também veem retração maior do PIB este ano
Gabriela Valente - O Globo
- BRASÍLIA- Após o Banco Central ( BC) ter surpreendido o mercado financeiro na última quarta- feira, ao manter a taxa básica de juros ( Selic) inalterada em 14,25% ao ano, os especialistas revisaram — para pior — as projeções para a inflação este ano e em 2017. Com a avaliação de que a estratégia do BC não será suficiente para controlar os preços, os analistas aumentaram a previsão para a inflação para este ano de 7% para 7,23%, de acordo com a pesquisa semanal Focus, que a autoridade monetária faz com as maiores instituições financeiras do país.
A projeção ficou ainda mais distante do teto da meta determinado pelo governo, de 6,5%. Para 2017, as instituições de mercado elevaram a estimativa de 5,40% para 5,65%.
A promessa do BC é fazer o Índice de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA) ficar dentro dos limites permitidos e levar a inflação ao centro da meta, que é de 4,5%, no ano que vem. No entanto, cumprir essa tarefa se mostra um trabalho cada vez mais complicado, segundo os analistas.
— É um ajuste do mercado com a postura do Banco Central na gestão de Nelson Barbosa (ministro da Fazenda). O mercado reagiu aos sinais de um BC mais flexível às pressões políticas e a uma posição de política monetária que não era esperada pelo mercado — avaliou o professor do Ibmec Gilberto Braga.
Os economistas também alteraram a expectativa para a taxa básica de juros. A previsão para o fim de 2016 caiu de 15,25% para 14,64% ao ano. Mesmo com o indicativo de manutenção dos juros, os economistas apostam em uma alta de 0,75 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária ( Copom) de março. Com isso, a Taxa Selic passaria dos atuais 14,25% para 15% ao ano.
Há ainda a perspectiva de outra alta de 0,25 ponto percentual em abril. De acordo com as projeções do Focus, os juros só vão começar a cair em setembro.
Uma avaliação melhor dos rumos da política de combate à inflação deve ser feita na semana que vem, após o Copom publicar a ata de sua última reunião, quando, dividido e sob pressão política para não aprofundar ainda mais a recessão econômica, decidiu contrariar toda a comunicação que tinha feito anteriormente e manter os juros em 14,25% ao ano.
Sinais contraditórios
A decisão foi tumultuada por uma nota publicada no dia 19 — o primeiro dia da reunião — pelo presidente do BC, Alexandre Tombini. No texto, ele classificou de “significativas” as mudanças nas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) em relação à economia brasileira. Na ocasião, o Fundo revisou a expectativa de retração deste ano de 1% para 3,5%. E o crescimento do Brasil em 2017 seria zero, deixando apenas para 2018 a tão esperada retomada da economia.
O presidente do BC usou as estimativas do Fundo para justificar o fato de não aumentar os juros, coisa que o banco indicava que iria fazer.
— Na última ata do Copom, o BC sinalizava que ia aumentar os juros. De lá para cá, não houve acontecimento que pudesse mudar o rumo da política monetária — observou Braga.
Os analistas ouvidos pelo BC também reviram suas estimativas para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2016, a previsão agora é de recessão de 3%, ante 2,99% na pesquisa anterior. Para 2017, o crescimento estimado foi reduzido de 1% para 0,80%.
Eles também mostraram pessimismo em relação ao dólar, que deve continuar a forçar os preços. Para o fim deste ano, a previsão subiu de R$ 4,25 para R$ 4,30. Para o fim de 2017, passou de R$ 4,30 para R$ 4,40.
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