O drama social e econômico causado pelo fechamento de 1,542 milhão de postos de trabalho no mercado formal no ano passado não parece suficiente para comover os integrantes do governo Dilma Rousseff nem para convencê-los da intensidade e extensão da crise provocada por seus erros e sua irresponsabilidade. Ao divulgar o pior resultado da série de registros do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) desde sua criação em 1992, o Ministério do Trabalho e Previdência Social destacou, em sua página na internet, que, a despeito da imensa perda de vagas, “o estoque de empregos é o terceiro melhor da série”.
Pior fez o ministro Miguel Rossetto ao afirmar que o péssimo resultado do Caged em 2015, abaixo do esperado pelo governo, não foi ruim para o trabalhador. “A crise não foi capaz de destruir as conquistas dos trabalhadores nos últimos anos”, afirmou. Não será fácil convencer disso os milhões de trabalhadores demitidos – que passaram a fazer parte da lista dos 9 milhões de brasileiros que procuram emprego, segundo dados mais amplos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – e suas famílias.
Os números do emprego formal – o de melhor qualidade no mercado de trabalho brasileiro, pois oferece remuneração mais alta e assegura aos empregados garantias legais, como férias e direito de acesso à previdência social, além de melhores ambientes de trabalho – são apenas os mais recentes que demonstram a rápida deterioração das condições da economia brasileira.
A piora do cenário vem sendo notada desde meados do primeiro mandato de Dilma Rousseff, mas o desastre político, administrativo e fiscal que marcou o início do segundo mandato impulsionou o processo. No ano passado, a economia deve ter encolhido de 3,5% a 4%, a inflação oficial foi de 10,71% (mais do dobro da meta de 4,5%) e o déficit público nominal no fim de novembro equivalia a 9,3% do PIB (muito superior à media dos resultados dos países em desenvolvimento).
Embora seja por si só impressionante, o número de postos de trabalho formais fechados no ano passado não é a única informação negativa do Caged. O mercado de trabalho perdeu qualidade, pois, por setor da economia, a maior perda de vagas ocorreu na indústria de transformação. Trata-se do segmento que, por suas especificidades, exige profissionais mais qualificados e, por isso, oferece salários mais altos. No ano passado, a indústria de transformação fechou 608.878 vagas com carteira assinada. Entre os setores que mais empregam, a construção civil fechou 416.959 postos; o setor de serviços, 276.054; e o comércio, 218.650.
Consequência previsível da rápida deterioração do mercado de trabalho, a remuneração real média encolheu. No ano passado, os salários médios de admissão tiveram queda real de 1,63% em relação ao ano anterior: caíram de R$ 1.291,86 para R$ 1.270,74, de acordo com o Caged. Outras pesquisas indicam que em 2016 a renda média continuará a cair, entre elas a feita pela Fipe-USP, mostrando que os acordos de negociação salarial concluídos em dezembro não conseguiram corrigir integralmente os salários. Ou seja, a renda dos trabalhadores abrangidos por esses acordos terá queda real.
É surpreendente que, decerto dispondo de informações como essas – pois elas são essenciais para o desempenho de sua função pública –, o ministro do Trabalho e Previdência ainda afirme que o mercado formal de trabalho “mostra resistência, porque preserva o poder de compra muito próximo à inflação”. Otimista diante do cenário desastroso que afeta a vida de milhões de brasileiros, Miguel Rossetto fala em possível “reversão do cenário negativo”, pois a prioridade do governo, como garante, é a recuperação do crescimento e da geração de empregos, “com mais crédito, exportação, investimentos nas concessões, especialmente na infraestrutura, redução da inflação e retomada da atividade do mercado interno”.
Com um governo que se alimenta de sonhos será mais difícil para o País retomar o caminho do crescimento e da geração de empregos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário