• Articulação entre Planalto e ala do partido inclui ministério a deputado de MG para reconduzir Picciani
Júnia Gama e Leticia Fernandes - O Globo
-BRASÍLIA- A ala governista do PMDB articula um acordo com integrantes da bancada de Minas Gerais para viabilizar a recondução de Leonardo Picciani (PMDB-RJ) à liderança do partido na Câmara e, ao mesmo tempo, conter o avanço do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff na Casa.
No sábado, Picciani almoçou com o deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG) na fazenda de seu pai, o exgovernador de Minas Newton Cardoso (PMDB), em Pitangui (MG). Na conversa, da qual também participou o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) e o ex-governador, Picciani tentou convencer Newton Júnior a aceitar um acordo para suceder-lhe no próximo ano, em vez de disputar a eleição pela liderança agora, como desejam os dissidentes do partido, capitaneados pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Newton e Picciani têm uma boa relação e trabalham juntos na liderança; o mineiro, que está em seu primeiro mandato, é o 1° vice-líder do partido na Câmara.
Os defensores da recondução de Picciani tentam demover Newton Júnior da ideia de concorrer com o argumento de que não vale a pena bancar uma candidatura “patrocinada” por um presidente da Câmara tão fragilizado e que colar seu nome ao de Eduardo Cunha pode se tornar um entrave para voos futuros. Segundo relatos, Newton se mostrou favorável a uma solução que una a bancada e disse que não levaria uma possível candidatura “às últimas consequências”, pois essa não é uma “questão de vida ou morte” para ele. Antes de deixar a fazenda, Picciani teve uma conversa reservada com o parlamentar mineiro.
— Foi uma conversa light, boa e franca, no sentido de tentar manter a parceria com a bancada de Minas. Ele deixou a porta aberta para o entendimento — afirmou Picciani ao GLOBO.
Ministério para aliado
Além do apoio para que Newton Júnior assuma a liderança do PMDB na Câmara em 2017, foi colocada a possibilidade de Mauro Lopes, que tem longo histórico de atuação na Comissão de Viação e Transportes da Câmara, assumir a Secretaria da Aviação Civil, deixada por Eliseu Padilha — braço-direito do vice-presidente Michel Temer — logo após ser acatado o pedido de impeachment contra Dilma.
No final de dezembro, Mauro Lopes chegou a ser sondado pelo ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) para o cargo. Segundo interlocutores do governo, a decisão agora depende do sinal verde da presidente. Ao GLOBO, Lopes negou qualquer sondagem direta por parte do governo, mas disse acreditar que o nome para a pasta deve ser decidido nos próximos dias.
A ordem no Palácio do Planalto é não entrar de cabeça na disputa interna no PMDB para evitar reações. Segundo interlocutores do governo, ainda não há uma definição sobre um novo nome para ocupar a pasta da Aviação Civil, mas há uma avaliação de que o cargo deve ser utilizado para ampliar o apoio à presidente Dilma na batalha contra o impeachment.
A escolha de Mauro Lopes para a secretaria serviria, na avaliação de aliados do Palácio do Planalto, para melhorar o clima na bancada peemedebista em relação ao governo e formar maioria mais sólida contra o impeachment. Hoje, o governo tem ao menos 199 votos na Câmara para barrar o processo. São necessários 172 votos contrários ao impeachment para que ele não prospere na Casa.
— Um nome de Minas une a bancada em torno do próprio governo. O estado só tem um ministro, o Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário). Com isso, Dilma se fortalece perante a bancada. E claro, respinga favoravelmente no Picciani, ajudando a resolver a questão da liderança — afirmou um dos presentes ao encontro.
Reunião da bancada mineira
A bancada mineira vai se reunir na próxima segunda-feira para fechar uma posição a respeito da questão. Leonardo Quintão (PMDB-MG), que ocupou a liderança durante uma semana no final de 2015, no episódio da destituição de Picciani, faz oposição a este acordo e quer lançar seu nome na disputa. Mas não conseguiu, até o momento, reunir consenso para isso. O nome de Leonardo Quintão perdeu força, segundo avaliação de peemedebistas, por ele ter sido “precipitado” ao assumir no lugar de Picciani às vésperas do início do recesso. Isso fez com que o atual líder desistisse de vez de cumprir o acordo feito com a bancada, de que apoiaria este ano, na eleição para a liderança, um nome mineiro.
A bancada atual do PMDB na Câmara é composta por 67 parlamentares, sendo sete nomes de Minas. Logo após a retomada do cargo por Picciani, deputados que estavam licenciados e tinham voltado à Câmara, como Pedro Paulo e Marco Antônio Cabral, deixaram novamente Brasília e retomaram suas funções na prefeitura e no governo do Rio, respectivamente.
Hoje, deputados do PMDB se reúnem com Leonardo Picciani em Brasília para definir as regras da eleição para a liderança do partido na Câmara, marcada para março. O deputado Darcísio Perondi (RS) será o representante da ala pró-impeachment no encontro, que defende eleição por voto secreto e uma maioria de dois terços para eleger o líder. Nas escolhas anteriores, bastava ao candidato obter a maioria simples dos votos. Perondi continuará a defender um nome de Minas Gerais para disputar a eleição e unir o partido.
O vice-presidente Michel Temer, que participou da articulação para destituir Picciani da liderança do PMDB no ano passado, tem se distanciado da disputa. Aliados de Temer defendem que é preciso chegar a um nome de consenso para o cargo, mesmo que ele continue nas mãos de Picciani. Temer irá lutar para ser reconduzido à presidência do PMDB na convenção do partido, em março, e precisa recuperar votos em estados com grande número de votantes, como o Rio de Janeiro, para vencer.
— Não tem havido insistência do Temer num outro nome para a liderança, isso tem facilitado a recondução do Picciani. Com o vice-presidente menos incisivo nessa divisão do partido, quem ganha é o Leonardo Picciani. Hoje, o único que provoca a divisão no partido é o Eduardo Cunha — disse um peemedebista.
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