Por Andrea Jubé – Valor Econômico
BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer já está com o pé na estrada para começar a percorrer o país e pavimentar sua reeleição à presidência do PMDB na convenção programada para março. Ele já disse a interlocutores que prefere uma composição que represente a unidade partidária, mas avisou que se houver disputa, não fugirá dela. No fim do mês, ele deflagra as viagens, cujo roteiro inicial abrange capitais nas cinco regiões.
O périplo da chamada "Caravana da Unidade" começa no dia 28 de janeiro, em Curitiba, no Paraná, de onde segue para Florianópolis, em Santa Catarina. Estão no radar, na sequência, visitas ainda não agendadas a capitais das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. No Sudeste, os destinos prováveis são Belo Horizonte, Vitória (ES) e Rio de Janeiro.
Com o PMDB rachado ao meio, e em pé de guerra com o grupo do Senado, Temer tenta afinar o diálogo com lideranças regionais no esforço de reunificar a sigla e evitar o embate pelo comando partidário. Ele exerce a presidência do maior partido do país há 15 anos consecutivos.
Ele enfrenta, mais uma vez, a oposição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que articula o lançamento de uma candidatura para enfrentá-lo na convenção. O nome que circula entre pemedebistas é o do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que é igualmente próximo a Renan e Temer. Jucá não esconde o desejo de presidir o PMDB, mas não demonstrou, até o momento, predisposição para esgrimar com Temer.
Se houver um entendimento na cúpula partidária, Jucá pode assumir o lugar que hoje é do senador Valdir Raupp (RO), a primeira vice-presidência do partido. Assim como fez com Raupp, Temer se licenciaria permitindo que Jucá assumisse por um tempo o comando do partido.
Adversários de Temer, alinhados com Renan, acusam o vice-presidente de compor com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Cunha trava um embate velado com o presidente do Congresso. Há duas razões de fundo para as divergências entre Cunha e Renan: em primeiro plano, o presidente da Câmara abriu fogo contra o Palácio do Planalto, de quem o senador alagoano é fiel aliado. O segundo motivo é a Operação Lava-Jato. Embora Cunha e Renan sejam igualmente investigados na operação, o alagoano acredita que o presidente da Câmara tenta implicá-lo ainda mais nas denúncias.
O grupo de Renan já enfrentou Temer pelo comando do PMDB. Em 2007, Renan juntou-se ao ex-presidente José Sarney para lançarem juntos a candidatura do ex-ministro da Justiça e do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim para o comando da sigla. Mas às vésperas da convenção, Jobim retirou a candidatura ao verificar que não tinha votos para vencer.
"Isso aconteceu há nove anos, Michel [Temer] era mais forte, agora ele perdeu apoios, hoje ele não tem votos para se reeleger", diz um aliado de Renan. Segundo este renanzista, Temer hoje estaria fragilizado por causa dos recentes movimentos que agravaram a divisão no partido. Primeiro, ele interveio na disputa pela liderança do PMDB na Câmara, cujo ápice foi o afastamento por oito dias de Leonardo Picciani (RJ) do cargo. Depois, reuniu a Executiva Nacional para aprovar uma resolução que restringiu novas filiações partidárias. O episódio motivou bate-boca público entre Renan e Temer. "O PMDB não aceita cabresto, cada cacique manda em sua tribo", diz um aliado de Renan.
Temer larga na disputa fragilizado no maior diretório do PMDB, o do Rio de Janeiro, controlado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, que está ressentido com os movimentos do vice-presidente para afastar seu filho, Leonardo, do cargo de líder da bancada na Câmara. Um aliado de Temer destaca, contudo, que ele tem apoios no Rio, apesar da oposição de Jorge Picciani, como do governador Luiz Fernando Pezão, do ex-governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes. O trio reuniu-se com Temer em São Paulo no fim do ano.
O vice-presidente também enfrenta fissuras em outros importantes diretórios, como Minas Gerais e Mato Grosso. Em Minas, o deputado federal Mauro Lopes, que integra a Executiva do PMDB, é aliado de Picciani. "Em política, não tem adversário que possa se tornar seu aliado mais pra frente", diz um interlocutor de Temer, citando um dos próceres da sigla, Ulysses Guimarães.
Os caciques da legenda evitam falar em disputa neste momento. "Eu luto para construir a unidade, por um PMDB vitorioso em 2016 e com candidatura própria em 2018", diz o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). "Desconheço disputa no PMDB, o que existe é o trabalho hercúleo de unir o partido, mostrar que somos uma alternativa de poder", diz o ex-ministro Eliseu Padilha, um dos mais próximos de Temer. "A unidade partidária é o abrigo do sucesso eleitoral", reforça Padilha.
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