• Candidatura Lula é certa se Dilma sofrer impeachment
- Valor Econômico
As eleições municipais entraram no radar do PT e devem pautar a relação do partido com o governo, este ano, especialmente no que diz respeito à política econômica. A exemplo do que ocorreu em 2012 em relação a 2014, a eleição de 2016 deve esboçar o cenário da sucessão presidencial de 2018. O desenho delineado não é dos mais favoráveis para o partido que há 13 anos domina o centro da vida política nacional.
Os grandes vencedores de 2012 foram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - e a presidente Dilma Rousseff, por tabela -, o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, morto em acidente aéreo durante a campanha presidencial de 2014, e o senador Aécio Neves, do PSDB, não por acaso três dos principais protagonistas da eleição vencida por Dilma.
O prestígio de Lula era tal que o ex-presidente se dava ao luxo de inventar e eleger nomes tirados do bolso do colete, sem nenhum passado partidário. Eram os "postes" de Lula. Assim como Dilma dois anos antes, Fernando Haddad foi escolhido candidato a despeito de nomes tradicionais do PT, como a senadora Marta Suplicy, hoje no PMDB, e o atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante. E Haddad derrotou José Serra, o que contribuiu para tirar de vez o tucano paulista da sucessão presidencial de 2014.
Proporcionalmente, o PSB foi o partido que mais cresceu em 2012, o que entronizou o nome de Eduardo Campos no panteão da sucessão. Ele não só poderia ser o candidato do PSB, o que ocorreu, como entrou nos cálculos tanto de Lula como de Aécio para eventual composição. Um detalhe curioso: a derrota de Serra em São Paulo e a vitória de Marcio Lacerda (PSB) em Belo Horizonte fortaleceram posição de Aécio no PSDB, mas o tucano elegeu nas principais cidades mineiras, em 2012, menos prefeitos que elegera em 2008. Dois anos depois faltaram os votos de Minas para Aécio na disputa com Dilma.
Eleição municipal não é parâmetro definitivo para as eleições presidenciais. Mas a eleição de 2012, pelo menos, deixou pistas sobre o humor do eleitorado, ao meio do mandato presidencial, sobretudo nas grandes cidades, e virtualmente definiu os atores da eleição de 2014 - à exceção de Marina Silva (Rede), à época sem partido, elevada à condição de protagonista depois da morte trágica de Eduardo Campos. A preocupação do PT e do governo com 2016 se justifica, pois o quadro, visto de hoje, é desfavorável e sua principal liderança, Lula, está desgastada como nunca antes esteve numa eleição, desde que chegou ao Planalto.
A prioridade do PT é a reeleição de Fernando Haddad em São Paulo. No Rio, o PT não deve disputar com candidato próprio. A ideia é apoiar o candidato do prefeito Eduardo Paes, do PMDB. O senador Lindbergh Farias foi avisado pela cúpula partidária que deverá viajar na campanha, se insistir no apoio à candidatura de Marcelo Freixo (PSOL).
O PT depende do PMDB do Rio como o PMDB do Rio depende do governo do PT. O engajamento de Paes, do governador Pezão e do ex-governador Cabral na luta contra o impeachment dividiu os pemedebistas. Em Belo Horizonte, o PT está sem um nome competitivo, e o governador Fernando Pimentel, com seus próprios problemas, não parece empenhado na eleição. Em Salvador, o segundo maior colégio, entre as cidades brasileiras, o favoritismo é do prefeito Antonio Carlos Magalhães Neto, um remanescente do DEM.
Lula e o PT vão manter em suspenso a candidatura do ex-presidente, em 2018, enquanto for possível. Até porque, se Lula resolver não se candidatar novamente e anunciar já sua decisão, abre imediatamente uma disputa interna pela vaga no PT, onde já desfilam eventuais pretendentes. Uns mais, como Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul, outros ainda cautelosos, como o ministro Jaques Wagner (Casa Civil). Aloizio Mercadante já esteve melhor posicionado, e as chances de Fernando Haddad dependem do resultado da eleição na capital. Enquanto Lula não decide, as ambições ficam represadas.
As eleições municipais também devem servir para Lula medir a temperatura em relação a 2018. Sua candidatura, hoje, só é vista como irreversível na hipótese do impeachment de Dilma.
A presidente Dilma e o ex-presidente Lula reconheceram que o PT acertou ao se posicionar contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na votação do Conselho de Ética que examina a cassação do mandato do deputado. Lula e seu entorno defendiam uma negociação com Eduardo Cunha, para evitar a abertura do procedimento do impeachment.
O ex-presidente considerava "um erro bater de frente" com o parlamentar do Rio. O voto contra Cunha foi uma decisão de risco do presidente do PT, Rui Falcão. Lula não gostou e não fez segredo disso, assim como não faz segredo de que mudou de opinião. Hoje a avaliação no governo e no PT é que a decisão restituiu um pouco da identidade própria do partido, deu mais personalidade à bancada e desnudou o vice-presidente Michel Temer e sua aliança com o presidente da Câmara. Desgastado, Eduardo Cunha é o adversário mais que perfeito.
A autoestima melhorou no Palácio do Planalto. A coordenação política do governo avalia que acertou também ao estimular a dissidência do PMDB do Rio com verbas e cargos. As duas operações serviram para deixar isolado um vice-presidente que circulava com desenvoltura entre a Fiesp e uma parte expressiva do PSDB. Segundo fontes ligadas ao Planalto, Temer sentiu o golpe e pediu arrego ao governo para se garantir na convenção de março, quando deve ser reconduzido à presidência do PMDB. Numa conversa com Wagner, o ministro disse ao vice que a presidente Dilma pediu para a equipe econômica analisar pontos do programa pemedebista "Uma Ponte para o Futuro". Na Vice-Presidência a conversa é que Temer não se sente mais isolado que Dilma e que o agrado de Wagner não causou maior entusiasmo.
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