- O Estado de S. Paulo
O dono e o capitão do “time” que assumiu o comando do País em janeiro de 2013 andavam afastados desde que a descoberta das práticas de um pôs em xeque a narrativa política do outro, colocando no rumo do descrédito o projeto de poder concebido por ambos.
Nos últimos dias, Luiz Inácio da Silva e José Dirceu de Oliveira e Silva voltaram a atuar em consonância por meio das respectivas estratégias de defesa. Começaram a admitir atos até então negados, numa nítida tentativa de redução de danos. Revelam o que podem na tentativa de manter oculto o que lhes seria muito mais prejudicial confessar. Mostram algumas cartas a fim de não abrirem o jogo por completo.
Desse modo, repetem a ideia originalmente apresentada pelo advogado Arnaldo Malheiros Filho e depois incorporada por Márcio Thomaz Bastos, então ministro da Justiça, de dar ao mensalão a roupagem de crime eleitoral. Lá como cá, as versões em tese mais amenas não deixam de ser altamente desabonadoras para seus autores. Em alguns aspectos, tão graves quanto as acusações a eles imputadas.
Vejamos as declarações do advogado de José Dirceu sobre o depoimento prestado por seu cliente ao juiz Sérgio Moro na sexta-feira passada. Segundo Roberto Podval, o ex-ministro da Casa Civil reconheceu ter aceitado “favores” de um dos lobistas (Milton Pascowitch) apontados como operadores do esquema da Petrobrás: empréstimo nunca quitado para a reforma e decoração de um apartamento.
Dirceu negou ser o mentor do esquema, mas admitiu ter permitido o uso de sua proximidade com o poder para a execução de negociatas, ciente do potencial de ilegalidade dessas ações. O próprio José Dirceu aparece no vídeo do depoimento divulgado nesta semana dizendo que a natureza das consultorias por ele aos seus contratantes era a de tráfico de influência: “Eu emprestava meu nome, meu prestígio e orientava essas empresas”, afirma.
Grave, pois não? Pois é. Quando confessa algo assim enseja a suposição da existência de fatos inconfessáveis, pois até então Dirceu jamais havia admitido envolvimento em operações questionáveis. A estratégia da confissão em doses homeopáticas com o intuito de entregar anéis para preservação dos dedos é possível observar nos movimentos do ex-presidente Lula.
Ele tem admitido atos que anteriormente negava ou sobre os quais se calava. Em pouco tempo, uma “cota” de um empreendimento imobiliário se transformou na intenção concreta de compra em apartamento específico (164-A) no condomínio Solaris, visitado pelo ex-presidente na companhia do dono da empresa que depois disso investiu quase R$ 800 mil em reformas.
Léo Pinheiro, o dono da construtora, está preso. Sua empresa obteve favorecimentos do governo e, junto com a Odebrecht, concedeu benemerências a sítio pertencente aos sócios de um dos filhos de Lula e local preferido da família Silva para momentos de lazer. O ex-presidente atesta sua proximidade com o preso, mas busca dar a ela moldura de naturalidade.
Relação esta que nada tem de normal. Nem a confissão (tardia) tem de natural, pois parece ter sido feita para encobrir o principal.
Perdas na diplomacia. Com a morte ontem do ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, são quatro os embaixadores que nos deixaram no espaço de um ano: além dele, Sebastião do Rego Barros, Clodoaldo Hugueney e Bernardo Pericás Neto.
Todos serviram nos governos Fernando Henrique Cardoso. Cada qual deles escreveu uma parte importante, inesquecível e permanente da história do Itamaraty, que alguns de seus sucessores tentaram revogar.
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