- Folha de S. Paulo
Neste ano, o total de dinheiro emprestado pelos bancos deve diminuir de novo. O total dos rendimentos do trabalho vai cair mais neste 2016. O consumo também, afora milagres.
Itaú e Bradesco estimam que vão emprestar menos dinheiro. É o que acabaram de dizer nesta temporada de anúncio de lucros. Para ser mais preciso: a carteira de crédito desses bancos deve crescer menos que a inflação.
Em 2015, o total dos empréstimos do Itaú baixou 6,1%, descontada a inflação. No Bradesco, 6,2%. Nos bancos nacionais menores, o declínio foi bem maior. O total de dinheiro emprestado no país diminuiu 3,7% em 2015.
O Bradesco estima que sua carteira de crédito vai aumentar entre 1% e 5% neste ano. Tomemos a média: 3%. Descontada a inflação prevista para 2016, dá uma queda real de uns 4%. Na média do Itaú, de uns 4,6%.
No ano passado, o total de empréstimos da banca estatal aumentou só 0,2%. Afora loucuras do governo (fazer mais dívida para dar crédito), a coisa não deve ser melhor em 2016. E daí?
Até outubro de 2015, a massa de rendimentos caía 1,2%; o crédito baixou 3,7%. Com essas pauladas e a depressão de ânimos, o consumo de varejo caía 3,5% até novembro de 2015 (sob Lula, crescia a 6% ao ano).
A baixa do número de pessoas empregadas e a do salário médio deve ser maior em 2016. O crédito deve cair de novo. Como o consumo vai se salvar? Na pele, a sensação de crise vai ser mais ardida.
Pode ser diferente? Até poderia, caso Dilma Rousseff tivesse planos para lidar com o problema de base mais imediato, a ruína em que deixou as contas do governo. Não tem.
Depois do discurso inócuo no Conselhão, na semana passada, a presidente foi ontem ao Congresso reforçar a impressão de que não tem planos para uma reviravolta.
Dilma Rousseff voltou a pedir a CPMF e a DRU (lei que desobriga o governo de gastar parte do Orçamento segundo as normas que vinculam receita a certas despesas). Propôs vaga reforma da Previdência. Sobre a pindaíba federal, sugeriu um teto legal de gastos para o governo.
Parece lindo. Mas, nesses termos, esse limite dá em besteira ou a presidente está propondo reduzir investimentos, salários do funcionalismo e o valor dos benefícios sociais quando a receita não crescer. É isso?
Certas despesas do governo crescem sem limite, exista ou não dinheiro, como as do INSS. Outras, crescem tanto quanto a receita, por lei. Se a receita é constante de um ano para outro, é preciso pois apertar em outro lugar: investir menos em obras, não reajustar salário de servidor ou benefício social.
Seria o arrocho que não ousa dizer seu nome, feito à matroca, ineficiente em vários sentidos. Quanto a limites, de resto, recorde-se que, em especial a partir de 2013, o governo não apenas descumpriu as metas fiscais como arrebentou todas as contas, mentindo, aliás, sobre o que fazia.
Ao propor um teto de gastos, sem mais explicações ou medidas, o governo quer plantar um pé de feijão do gigante da história infantil dentro de uma casa com teto baixo. Vai estourar, é claro. É preciso, pois, limitar cada despesa desembestada e acabar com gastos obrigatórios, em um plano ordenado de longo prazo, entre outros planos necessários de reforma do Estado. Não há.
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