- Folha de S. Paulo
Não faltam motivos para o governo apresentar o quanto antes uma lista séria e extensa de providências a fim de lidar com a ruína. No Brasil que imaginávamos pretérito e enterrado, chamávamos tal lista de "choque", com a diferença que "o plano" agora não poderia ter traço de exotismos e mágicas, como nos anos 1980 e 1990.
Se já não faltavam motivos, o risco de que possa acontecer em breve um tropeço feio na finança mundial deveria apressar Dilma Rousseff, que então renunciaria a suas ideias extravagantes sobre economia e, assim, tentaria convocar, se não um pacto, pelo menos uma conversa nacional séria sobre mudanças urgentes.
Caso a presente convulsão nos mercados financeiros se revele apenas mais um paniquito, tanto melhor. Fica-se com dois passarinhos na mão: um plano sério e relativa paz lá fora.
Parece otimismo desarrazoado acreditar que Dilma tome tal atitude. Resta-nos então torcer para que a presidente do banco central dos EUA, Janet Yellen, esteja certa, que os donos do dinheiro grosso do mundo estejam reagindo de maneira exagerada a alguns sinais na economia.
Yellen sabe um pouquinho mais do que quase todos nós sobre as mumunhas da finança, digamos, embora tenha der a voz da extrema cautela –não pode atiçar o pânico, pois fala de um dos tronos que dirigem o mundo. Mas é fato que têm ocorrido coisas ruins, além de China e petróleo, e outras muito esquisitas.
Vários indicadores financeiros sugerem medo crescente ou já muito alto de calotes, de empresas com risco alto de crédito a bancos. O preço das ações de grandes bancos americanos e europeus caiu de 25% a 30% desde o início do ano (o triplo da média do mercado). Publicam-se boatos na mídia financeira a respeito do suposto mau estado de bancos europeus, confirmados de certo modo pela alta do preço de contratar seguro contra perdas devidas a tais bancos.
Os principais índices de ações europeus e americanos voltaram a níveis de 2013 ou início de 2014. Índices de desempenho de empresas que fazem o transporte do comércio mundial parecem apontar para uma estagnação. As expectativas de inflação nos EUA para anos por vir ainda baixam, como se a economia fosse andar muito devagar.
Como nos paniquitos de costume, o dinheiro foge ou volta para ativos seguros, títulos americanos e ienes. Assim, cai o juro nos EUA e a moeda do Japão se valoriza, na contramão, de resto, do que pretendem as políticas monetárias desses países.
A taxa que investidores pedem para ficar com títulos de dez anos da dívida do governo dos EUA baixou a 1,63% ao ano, a menor desde fins de 2012, quando o mundo ia muito mal.
Depois de os juros "básicos" do Japão caírem abaixo de zero em janeiro e de o Banco Central Europeu cogitar mais medidas heroicas dessa espécie, até Yellen, do Fed, tocou no assunto. Juros negativos são um dos fatores que balançam os bancos, além do medo crescente de calote, que pode avariá-los ainda mais.
São também um sinal de que as recentes políticas heroicas dos BCs, última munição restante, não conseguem animar a economia, além de ter efeito contrário que pretendiam sobre moedas e juros. O que também causou perdas na finança. O que alimenta algum pânico.
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