• O fato de o Ministério da Saúde estar atrasado em cinco meses na entrega de kits para exames de dengue demonstra o grau de ineficiência da máquina pública
É maligna a conjugação da proliferação do mosquito Aedes aegypti com uma conjuntura econômica crítica, de inflação alta, recessão profunda, desemprego em ascensão e desarranjo nas contas públicas.
Tudo piora com outros sérios ingredientes: a incompetência em geral do poder público e a impossibilidade de um governo permeável a corporações sindicais, portanto avesso à adoção de arranjos modernos de administração, aprimorar a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), junto com estados e municípios. Sem isso, é impossível melhorar o atendimento de vítimas que se multiplicam de doenças espalhadas pelo mosquito — zika, dengue, chicungunha, as mais conhecidas. Apenas mais dinheiro não é o suficiente.
O roteiro é de filme de terror, porque, se tudo isto não bastasse, até agora o maior número de grávidas infectadas pelo zika, e que deram à luz crianças com microcefalia talvez causada pelo zika, está em áreas pobres do Nordeste, com destaque para Pernambuco.
É o público com perfil de paciente do SUS, sistema que não tem condições de atendê- lo como deveria. Principalmente as crianças.
Em toda essa história, há fatos gritantes, emblemáticos dos riscos que correm a população. O mais recente é que o Ministério da Saúde faz cinco meses não distribui kits para os exames de sorologia com a finalidade de identificar a dengue, isso em meio a uma situação já decretada de “emergência mundial”, pelo organismo de saúde (OMS) das Nações Unidas. Será difícil encontrar outro caso tão adequado para exemplificar a imobilidade de uma máquina do Estado que deveria, faz tempo, estar trabalhando com a competência e a velocidade requeridas pelo momento. Mas nada ou pouco acontece, além dos discursos de praxe. Marketing pode ganhar eleição, mas não vence uma crise de saúde pública como esta.
Entre os estados que ainda não haviam recebido os kits até terça-feira, encontravam- se Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás, incluídos entre os que apresentam o maior número de casos de dengue. Em São Paulo, o Instituto Adolfo Lutz (IAL) usa kits que tinha em estoques, insuficientes para atender à demanda, enquanto guarda amostras de sangue de 645 municípios do estado à espera do teste.
Esta crise do mosquito demonstra ter a capacidade de desnudar, de forma dramática, os problemas administrativos do SUS e o que restou de um Ministério da Saúde usado sem qualquer cerimônia pelo lulopetismo no toma lá dá cá do fisiologismo, para manter unida a base parlamentar do governo.
O atual ministro, deputado Marcelo Castro (PMDB- PI), é exemplar: médico psiquiatra, sem qualquer registro curricular que justificasse o cargo, entrou no lugar do petista Arthur Chioro para, em troca, o PMDB governista reforçar a bancada anti- impeachment. Sem que houvesse qualquer preocupação, de fato, com a saúde pública.
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