Por Cristiane Agostine - Valor Econômico
SÃO PAULO - Em meio ao aprofundamento da crise política, com a saída do PMDB do governo federal, movimentos sociais, juristas, artistas e acadêmicos contrários ao impeachment farão hoje novas manifestações contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A data foi escolhida por marcar os 52 anos do golpe militar de 1964. No Palácio do Planalto, Dilma receberá artistas e intelectuais em um encontro intitulado "em defesa da democracia". Em outra frente, entidades como CUT, MST, UNE e MTST farão atos em 23 capitais. O maior protesto deve acontecer em Brasília, com a previsão de discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a realização de uma marcha em frente ao Congresso.
Os movimentos sociais tentam ampliar a capilaridade dos protestos contra o impeachment e aumentar a participação fora do eixo São Paulo-Rio-Brasília. No sábado, Lula deve participar de um grande ato em Fortaleza. Entidades reunidas nas frentes de esquerda Brasil Popular e Povo Sem Medo, como CUT e MST, querem que o ex-presidente percorra o país em defesa do mandato da presidente Dilma e planejam atos com a presença do petista em Salvador e em São Bernardo do Campo (SP) nos próximos dias.
Para o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, Lula é o "cavaleiro da esperança". "Ele deve ir às ruas construir a resistência contra o golpe e reconstruir a unidade nacional", afirmou.
Os grupos sociais já planejam um novo ato no dia 9, sábado. Será o primeiro de caráter nacional em um fim de semana. "Queremos dialogar com mais gente", disse o presidente nacional da CUT.
Nas manifestações de hoje, os organizadores estimam a participação de 70 mil pessoas em Brasília e de 30 mil em São Paulo, na praça da Sé, palco do maior comício das Diretas Já. Além dos atos previstos em 23 capitais e no Distrito Federal, deve haver manifestações em 26 municípios do interior e em cerca de 20 cidades da Europa e América Latina.
Dirigente do MST, João Paulo Rodrigues afirmou que serão levados 800 ônibus com integrantes de movimentos sociais para o ato no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Artistas como Sergio Mamberti, Letícia Sabatella, Tássia Camargo e Ziraldo teriam confirmado participação, de acordo com os organizadores. "É preciso dizer: golpe, nunca mais", afirmou o líder do MST.
Ontem, líderes dos movimentos sociais como CUT, MST e MTST se reuniram com Dilma antes do anúncio da terceira fase do Minha Casa, Minha Vida. O lançamento, apesar de ter a redução de um milhão das três milhões de unidades habitacionais previstas pelo governo, foi visto como um aceno aos movimentos populares de que o governo quer "superar" a agenda do ajuste fiscal. Segundo Rodrigues, do MST, a discussão ficou entorno do futuro do governo, com o processo de impeachment em curso, e não houve promessas da presidente. "Criticamos a política econômica e mostramos à presidente nossa preocupação com a redução das políticas sociais, mas mostramos nossa solidariedade contra o golpe", afirmou o líder do MST.
Nos atos de hoje, os movimentos populares devem reforçar a crítica ao PMDB e ao vice-presidente da República, Michel Temer. O presidente nacional da CUT afirmou que é "preciso alertar os trabalhadores" de que se o impeachment da presidente acontecer, a crise econômica deve se aprofundar.
"Temer quer ser presidente sem passar pelas eleições. A posse dele não vai resolver a crise econômica. Pelo contrário, vai agravar", disse o presidente da CUT. "A inflação não vai diminuir, nem a taxa de desemprego. Quem vai pagar a conta serão os trabalhadores", afirmou. Freitas citou o programa "Uma ponte para o futuro", divulgado em outubro pelo PMDB, que prevê, entre outros pontos, que as convenções coletivas na área trabalhista prevaleçam sobre as normas legais, o fim da indexação de qualquer benefício social ao salário mínimo e o aumento da idade mínima para aposentadoria.
Em linha contrária a dos movimentos sociais, os grupos pró-impeachment também planejam intensificar ações contra o governo, apesar de ainda não terem marcado o próximo ato nacional.
O Vem Pra Rua, um dos organizadores das manifestações anti-PT, fará um ato no domingo em São Paulo, em frente ao prédio da Fiesp, para divulgar o nome dos parlamentares que são contra o impeachment ou que ainda não declararam voto. O grupo deve se juntar aos manifestantes que passam o dia em frente à Fiesp buzinando contra o governo Dilma.
Para o líder do movimento, Rogério Chequer, "é preciso expor a posição" desses parlamentares. "É inaceitável alguém afirmar que está indeciso sobre o impeachment diante de tantas denúncias. Isso soa como barganha política", disse.
Apesar de toda a linha sucessora de Dilma estar envolvida em denúncias de corrupção, o Vem Pra Rua afirmou que não é o foco do grupo protestar contra pemedebistas como Temer, Eduardo Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL). "O impeachment não pode ter como critério a qualidade do vice ou do substituto", disse. "Não dá para parar o Brasil para lavar toda roupa suja", afirmou Chequer.
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